quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Baba-Yaga


Caminho pela floresta
e falo intimamente com os animais
Danço descalça na chuva
Danço nua
Viajo por caminhos
que eu mesma faço
e da maneira que me convém
Meus instintos e meu olfato são aguçados
Expresso livremente minha vitalidade
minha alegria pura e exuberante
para agradar a mim mesma
porque é natural
é o que tem de ser
Sou a selvagem e jubilosa energia vital
Venha e junte-se a mim

Baba-Yaga é uma velha, muito velha, que vive em uma cabana sobre pés-de-galinha. Ela se alimenta de ossos humanos moídos em seu pilão, mas há quem diga que também come criancinhas com seus dentes de ferro. E voa dentro de um almofariz de prata, muito veloz. Contam ainda que o rastro de cinzas que deixa pelo céu, rapidamente a danada vai apagando com sua vassoura.
Importante figura no imaginário do povo russo, Baba-Yaga está presente em muitos contos tradicionais, no caminho de Vassilissa, a bela, ou do destemido Príncipe Ivan, como nas bilinas (narrativas em verso) de grandes poetas românticos, entre eles, Gogol, Puchkin, Liermontov. Igualmente na música clássica daquele país, alguns compositores se dedicaram a fazer-lhe um “retrato sonoro”: temos três poemas orquestrais com Dargomíshky, Balakirev e Liadov; ela também aparece na suíte Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky, e no Álbum para Crianças, de Tchaikovsky. Talvez, a primeira antologia de literatura russa de tradição oral, que o público de língua portuguesa teve acesso, fora feita por Alfredo Apell, nos idos da década de 1920. No Brasil, a bruxa aparece na história de encantamentos “A princesa-serpente”, na coletânea Contos populares russos organizada por J. Vale Moutinho (Nova Crítica, 1978 e Princípio, 1990), mas coube à escritora Tatiana Belinky o resgate mais bem divulgado como literatura para crianças: a velha Yaga e a magia das skáskas (narrativas maravilhosas) estão em Sete contos russos (Companhia das Letrinhas, 1995). Mais recentemente, foram publicados, em três volumes, os Contos de fadas russos, organizados por Aleksandr Afanas'ev, a partir de 1855, com o título Narodnye russkii skazki, base destes trabalhos e outras formas adaptadas (Landy, 2002 e 2003).

Quase sempre, Baba-Yaga é a temível bruxa, a malvada, la maliarda. Às vezes, ela parece ser apenas uma grande conselheira ou a guardiã de muitos segredos, moradora da escuridão numa densa floresta. Sob esta faceta, Baba-Yaga seria assim como a representação da Mãe-Natureza, igualando-se às antigas deusas, uma divindade com poderes sobre a vida e a morte porque rico em mistérios é seu perfil. Contudo, nossa maneira apressada de encarar as realidades imaginárias acomodou-se sobre a lógica a dividir o mundo em partes e posições irreconciliáveis. Quando se pensa em bruxas, evocam-se as fadas e uma eterna rivalidade, ou seja, a luta entre o Bem e o Mal.

Ora, a designação “bruxa” dada às velhas sábias surgiu muito antes do cristianismo lançar sua caça à elas, e referia-se a uma casta de sacerdotisas de um sistema religioso antigo e diferente, com caracteres próprios ao paganismo: uma religião de culto à Terra. Durante a baixa Idade Média (até meados de 1400), as bruxas eram tidas em consideração pelos campônios, aldeões e demais homens das vilas. A bruxaria era, para o Clero e a Coroa, uma simples superstição e, de modo algum, estava associada aos poderes do Mal. Reconhecidamente, as velhas que prestavam serviços para toda a comunidade na condição de parteiras, curandeiras, conselheiras, eram bruxas. Acreditava-se (uma tradição que ainda hoje se mantém) que essas mulheres tinham poder e influência sobre o corpo de outras pessoas e podiam curar doenças, bem como havia a crença de que sua magia e outras formas de projeção podiam favorecer a boa colheita. Com suas ervas milagreiras, a antecipação do futuro e outras simpatias, as bruxas eram respeitadas. A Medicina era ainda uma ciência incipiente, atendendo prioritariamente às camadas mais altas da sociedade medieval, como a nobreza e o clero; mesmo assim, os resultados a que chegava eram menores e mais incertos que os milagres operados pelas velhas sábias do povo.

No entanto, com a crise que a igreja medieval enfrentou junto às classes populares, as bruxas acabariam por cair em desgraça. Política e religião uniram forças e passaram a difundir novas imagens e idéias a respeito do curandeirismo e outras superstições relacionadas às velhas. Tornaram-se agentes do Mal, foram demonizadas dentro dos tribunais, em oposição a um sistema que representava a visão do Bem. Como portadoras de uma maldição divina, as bruxas se transformaram ideologicamente em consortes do próprio Diabo — ao mesmo tempo em que, na iconografia da época, o anjo soberbo ganhava novos contornos, assemelhando-se ao traçado animalesco e profano do antigo deus Pã. Fora criado igualmente o conceito de sabá, a grande festa orgíaca em que a devassidão, a gula e a beberagem tomavam a cena, gerando terror e histerismo entre o povo.

O velho conselho de uma bruxa não continha mais sabedoria, tornou-se um maledicente sussurro como um vento sequioso, frio e corruptor. E, entre os véus e alguma penumbra da fantasia, surgiram voláteis fadas, numinosas entidades, obrigando as mulheres-bruxas a esconderem-se em refúgios cada vez mais ermos. Os contos populares de magia são pródigos nas imagens do sítio abandonado, da alta torre, do castelo debaixo da montanha ou imerso no mar, como a casa perdida no meio da floresta em que ninguém ousa penetrar.

Vassilissa, a Formosa, andou e andou, e só ao entardecer do dia seguinte ela chegou à clareira onde ficava a cabana da Baba-Iagá. A cerca em volta dessa isbá era toda feita de ossos humanos, encabeçados por crânios espetados neles, com olhos humanos nas órbitas. E o trinco do portão era uma boca humana cheia de dentes aguçados. E a casinha era construída sobre grandes pés de galinha. (Belinky 1996: 25-6)
Longe do convívio humano, Baba-Yaga tem o domínio pleno e solitário da floresta, suas árvores e as sombras, revelando-se como uma das manifestações do arquétipo feminino da Grande-Mãe, com quem, em última instância, todos buscam um consolo ou ajuda. O encontro de Vassilissa com ela guarda certas semelhanças com uma versão primitiva pouco conhecida do conto de O Chapeuzinho Vermelho, que remete não apenas a um rito de passagem, mas à transmissão de poderes da mulher velha para a jovem (Kaplan, 1997).

É necessário um período de convivência naquela cabana e abandonar os temores e a curiosidade infantis, para que uma nova aprendizagem se estabeleça.
É ilustrativo o diálogo com Vassilissa, a respeito dos três cavaleiros que a menina vira passar (o branco, o rubro e o preto), quando se dirigia à cabana sobre pés-de-galinha. A velha responde que eles respectivamente são “meu dia, minha tarde, minha noite”. Não poderia se expressar de outra maneira, não fosse a verdadeira senhora da passagem do tempo. “Podemos chamá-la de Grande Deusa da Natureza”, afirma Marie-Louise von Franz, mas “obviamente, com todos esses esqueletos em volta de sua casa, ela é também a Deusa da Morte, que é um aspecto da natureza” (1985: 208). Baba-Yaga compreende igualmente os dois mistérios extremos da Vida, o nascimento (criação) e a morte (destruição).

A Grande Mãe nem sempre é Boa Mãe. Na escala grandiosa, o seu aspecto negativo, devorador e asfixiante, denomina-se a Mãe Terrível [...] Nos mitos, aparece como a mãe devoradora que come os próprios filhos. Conhecemo-la como a cruel Mãe Natureza, que procura repossuir toda a vida — toda a civilização — com a finalidade de colocar tudo de novo dentro do ventre primevo. Como terremoto, abre literalmente o ventre para sugar o homem e suas criações de volta a si mesma. (Nichols 1995: 105)
Além de suas qualidades dóceis e férteis, o arquétipo da Grande-Mãe simboliza a destruição necessária para uma nova ordem. O sorriso malévolo de Baba-Yaga pode ser comparado com inúmeras representações de um tipo de mãe-fera, como é o caso da deusa Kali da tradição hindu. Sedenta de sangue, Kali pode surgir inesperadamente diante de seu expectador com a língua vermelha estirada para fora — antevendo o prazer da devoração.

Do bosque saiu a malvada Baba-Iaga. Viajava dentro de um almofariz e segurava na mão o pilão e a vassoura.

— Cheira-me aqui a carne humana! — suspeitou a terrível bruxa.

Vassilissa estava tão aterrorizada que se sentiu desmaiar. Tudo em volta era sinistro e Baba-Iaga tinha um ar ameaçador. Mas resolveu encher-se de coragem. Já que ali estava, pelos menos ia tentar a sorte e pedir ajuda àquela horrível bruxa. Assim, aproximou-se da velha, inclinou-se e disse:

— Olá, avozinha! As minhas irmãs mandaram-me vir ter contigo, para te pedir lume. (Beliayeva 1995: 81)

Quando nos depararmos com o temível, ou mesmo com o nariz e as rugas de Baba-Yaga, intimamente sabemos algo de sua força e sua ancestralidade mágica.

Tratá-la com respeito é o primeiro passo para conquistar respeito em troca. Quando Vassilissa encara a feiticeira com sinceridade, sem soberba ante o perigo, assegura as chances para uma cumplicidade e convivência pacífica com a velha. Não cair em sua ira devoradora significa ter acesso aos conhecimentos dessa potestade arquetípica. Durante a estadia na isbá da bruxa, há de recuperar essa memória, os segredos de quem sabe ouvir a música das correntezas subterrâneas. Ao mesmo tempo em que vai demonstrando sinais de afeição, a menina reconhece na outra o saber, ainda que inconsciente, na verdade é seu. Afinal, que imagem o espelho de seus olhos refletirá?

Enquanto Baba-Yaga jantava, Wassilissa ficou ali perto, silenciosa. Baba-Yaga disse: “Por que é que você está me olhando sem dizer nada? Você é muda?”
A menina respondeu: “Se pudesse, gostaria de lhe fazer algumas perguntas.”

“Pergunte”, disse Baba-Yaga, “mas lembre-se, nem todas as perguntas são boas. Saber demais envelhece!” (von Franz 1985: 206)

A Lenda da Descida da Deusa do Mundo do Subterrâneo

A nossa Senhora a Deusa nunca amou, mas Ela resolvia todos os Mistérios, até o Mistério da Morte; então fez uma viagem ao Submundo.

Os Guardiães dos Portais desafiaram-na: "Despe os teus trajes, tira as tuas jóias; porque não os podes trazer para esta nossa Terra."

Então Ela despiu os seus trajes e tirou as suas jóias, e foi amarrada, como todos os que entram no Reino da Morte, a Poderosa.

E era tal a sua beleza, que a própria Morte se ajoelhou e beijou os seus pés, dizendo: "Abençoados sejam os teus pés, que te trouxeram para estes caminhos. Fica comigo; mas deixa-me pôr a minha mão fria no teu coração."

Ela respondeu: "Eu não te amo. Porque é que acabas com todas as coisas que amo e tens prazer em que esmoreçam e morram?"

"Senhora", respondeu a Morte, "esta idade e destino, contra as quais nada posso fazer. A idade faz com que todas as coisas murchem; mas quando os homens morrem no fim do tempo, eu dou-lhes descanso e paz, força para que eles possam retornar. Mas Tu! Tu és maravilhosa. Não voltes; fica comigo!"

Mas ela respondeu: "Não te amo".

Então disse a Morte: "Como não recebeste nem a minha mão ou o teu coração, terás de receber o chicote da Morte".

"É o destino assim seja," disse Ela. E Ela ajoelhou-se, e a Morte chicoteou-a carinhosamente. E ela chorou, "Sinto as pancadas do amor".

E a Morte disse, "Abençoada Sejas!" e deu-lhe o Beijo Quíntuplo, dizendo: "Que assim te possas manter na alegria e conhecimento." E Ele ensinou-Lhe todos os Mistérios, e Eles amaram e foram um, e Ele ensinou-Lhe todas as Magias.

Porque existem três grandes acontecimentos na vida de um homem: Amor, Morte e Ressurreição no novo corpo; e a Magia controla-os todos. Pois para realizar o Amor deves voltar ao mesmo sítio e lugar e na mesma altura que a pessoa que amas, e deves lembrar-te e amá-la novamente. Mas para renascer tens de morrer e estar pronto para um corpo novo; e para morrer tens de ter nascido; e sem amor não podes nascer; e isto é tudo a Magia.

O que é Federação Pagã

A Federação Pagã, oficialmente fundada em 1971, trabalha para tornar o paganismo acessível às pessoas que genuinamente procuram um encontro espiritual baseado nos Antigos Deuses e na Natureza.

A Federação Pagã tem 30 Coordenadores regionais na Grã-Bretanha que actuam como bases de actividade e apoio da P.F., e como P.F.Internacional está representada com Coordenadores Nacionais em 26 Países.

Os Coordenadores mantém contacto postal , via internet ou pessolamente, com os membros da sua área, ou países, se eles assim o desejarem, e estão disponíveis para os orientar nas suas dúvidas, quando necessário.

Além dos seus coordenadores nacionais e regionais, a P.F tem Organizadores locais nomeados pelos Coordenadores nacionais que
actuam nas suas comunidades . Os coordenadores podem levar a cabo Celebrações, debates, encontros e conferências, ou delegar em seus organizadores.

Em Inglaterra, a P.F. leva a cabo mais de 1000 inquéritos por ano, desde a rádio, televisão, jornais e revistas. Para além de fornecer informação geral, a P.F. fornece contactos em tradições especificas.

A P.F. conseguiu que o Paganismo fosse reconhecido como uma religião válida pelo Home Office e pela UK´s Interfaith Network e trabalha para repor a verdade do paganismo, opondo-se aos retratos difamatórios e incorrectos resultantes da intolerancia religiosa e do oportunismo pessoal, facultando informacões, enviando correcções e quando necessário, apresentando queixas nos tribunais – a P.F. tem efectivamente auxiliado em casos de discriminação religiosa nos empregos e na custódia de crianças.

Os nossos materiais educativos ( folhetos e pacotes informativos) encontram-se em várias livrarias académicas e instituições de renome, e ocasionalmente também são enviados a professores e outros profissionais, quando conveniente.

Em todos os seus esforços, a P.F. promove a exactidão factual sobre o Paganismo, a mútua tolerãncia entre fés, sem contudo se mesclar, e tenta prestar a sua melhor assistência e colaboração a todos aqueles que desejam explorar a espiritualidade Pagã ou procurem simplesmente informações sobre a nossa religião.

Pagan Federation Internacional  


Os Departamentos, tal como são denominados todos os Núcleos externos da Pagan Federation, com sede em Inglaterra há 31 anos e a operarem em 26 Países, representam e actuam dentro das mesmas bases e objectivos.

O objectivo é facilitar o contacto entre os membros inscritos, se for essa a sua vontade (expressa por escrito quando da inscrição); promover encontros e debates entre os membros; o esclarecimento público e defesa dos seus ideais.

Dependendo das Leis vigentes em cada País, assim se actuará em defesa de um Membro, caso aconteça algum problema motivado por adoração em público (depois de apurados factos de que não ultrapassou riscos desnecessários, imprudência, ou exibição gratuita), ou no caso de molestamento de outros grupos religiosos.

Não nos responsabilizamos por actos propositados de provocação, indecoro ou de irresponsabilidade cívica, alheios ao espírito Pagão, nem a problemas jurídicos ou pessoais de um membro, assuntos esses externos à nossa Federação.

O objectivo é a aceitação do movimento como religião livre e também facilitar o contacto entre as pessoas de vários países. A P.F. escolhe pessoas qualificadas para Coordenadores Nacionais como os representantes oficiais em cada país, os quais trabalham para uma amena mas constante oficialização do paganismo como religião.

PFI - Portugal 

Desde 1997 que The Pagan Federation nomeou Coordenadores Nacionais em Portugal. Nessa qualidade, informam que estão ao seu dispor para ajudar em algum assunto administrativo, ou caso seja já associado, na orientação de assuntos ligados ao Paganismo. Os Coordenadores Nacionais de Portugal editam um jornal em português sobre paganismo, e enquadram os seus associados em um grupo de trabalho adequado, comum a todos os membros, cuja participação e interesse depende dos mesmos.

Anualmente é actualizada uma lista de Grupos ou Individuais associados, e a pedido, é enviada aos nossos Membros que tenham as quotas em dia. No caso de termos indicações para não transmitir o contacto, apenas constará o 1º nome, e a Tradição Pagã que segue, sem quaisquer mais referências.

A Pagan Federation Internacional- PORTUGAL oferece os seguintes serviços aos seus membros:

 WEB SITES – uma boa forma de estar informado!

Muitos países tem o seu próprio PFI Web site, com informações, links seleccionados, notícias, agenda de eventos etc. poderá encontrar uma lista dos nossos sites em : http://www.paganfederation.org .

 PAGAN WORLD - Uma magazine sazonal na Web!

Esta revista, em inglês, contem artigos de bastante interesse, não disponível a não-membros. No caso de Membros que não tem acesso à Internet, os Coordenadores Nacionais disponibilizam uma cópia da revista impressa.

 PFI CHAT LIST – Contactos informais entre NC e Membros da PFI!

Esta mailing list é em ingles e aqui pode pôr questões, falar com amigos de outros países e ler as notícias de última hora e até ter encontros com autores e nomes conhecidos no meio. Acesso só a membros. Caso deixe de ser membro será automaticamente "unsubscribed" desta lista.

 PFI – LOCAL CHAT LIST

Alguns países tem também a sua lista própria de contactos entre membros. A melhor forma para expor dúvidas, receber orientações ou simplesmente falar de longe com seus Coordenadores. Portugal oferece esta serviço, através de www.onelist.com/group/PFI-Portugal

 EVENTOS / REUNIÕES - Encontros informais!

Alguns países organizam reuniões (pub.moots) temáticas, ou de tema livre para os seus membros. A cargo dos Coordenadores Nacionais é organizada uma Saudação anual - consulte a secção Notícias.

Como tornar-se Membro ? 


A qualidade de Membro permite-lhe, nomeadamente, assistir a eventos, reuniões sazonais e a ter contacto com o paganismo europeu através do convívio com outros pagãos, trocando ideias e esclarecendo eventuais dúvidas.

A quota anual para estes serviços é de EUR 13 (Euros). Uma forma económica de se ser membro desta Organização de nível mundial e de ter todos estes benefícios.

A filiação é permitida a qualquer pessoa de 18 anos ou mais, que se considere sinceramente pagã e que concorde com os três princípios que norteiam a Federação Pagã:

1. Amor para e afinidade com a Natureza. Reverência para com a força vital e seus ciclos de vida e morte em eterna renovação.

2. Uma moralidade positiva, segundo a qual o indivíduo é responsável pela descoberta e evolução de sua verdadeira natureza, em harmonia com o mundo externo e a comunidade. Isso é muitas vezes expresso como: "Faze o que tu queres, contanto que não prejudiques ninguém".

3. Reconhecimento do Divino, o qual transcende gênero, com aceitação tanto o aspecto feminino quanto o aspecto masculino da Divindade.

Os Pagãos que concordem com esses princípios e tenham interesse em fazer parte da Federação Pagã deverão escrever para um dos endereços ao final referidos, falando de suas experiências, interesse e vivências no Paganismo. Serão também bastante úteis comentários sobre como o interessado descobriu sua condição de pagão, sobre os livros que possa ter lido, sobre a vertente do Paganismo que lhe interessa ou que pratica, assim como outras experiências que considere relevantes e significativas. (Mas saliente-se que Pagãos iniciantes ou experientes serão recebidos da mesma forma.) Após o recebimento dessas informações, o interessado, caso aceito, receberá uma carta convidando-o a participar da Federação Pagã, acompanhada de um formulário para preenchimento. Esse formulário, devidamente preenchido, deverá então ser devolvido aos Coordenadores da Federação Pagã do seu país.

A Federação Pagã reserva-se o direito de recusar um pedido de admissão a Membro efectivo.

Toda a correspondência enviada, deve ser sempre acompanhada de envelope já selado, para resposta.

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A Escola de Elêusis

Os mais antigos mistérios gregos parecem ser os de Elêusis, pequena povoação, hoje Lefsina, do noroeste de Atenas, pois eles datam dos tempos pré-micênicos, como o demonstram as pesquisas arqueológicas realizadas no local.

Um hino homérico do século VII antes da nossa era conta, sob a forma de lenda, a fundação do santuário.

Zeus e a deusa mãe Deméter tinham uma filha querida, Cora, que um dia foi raptada por Hades, deus dos Infernos.

Deméter, louca de dor, procurou a filha por toda a parte, mas em vão, certa vez, disfarçada de velha, foi recolhida na corte do rei Chélios e pediu para beber uma mistura de cevada, água e erva-dormideira. Atenderam ao seu desejo. Como agradecimento, ela encarregou-se de cuidar do filho recém-nascido da rainha e, para torná-lo imortal, ungia-o de dia com ambrósia e à noite submetia-o às chamas purificadoras de um fogo sagrado.

A rainha, surpreendendo este ritual, ficou deveras assustada, mas então a deusa revelou-lhe a sua identidade: «Sou», disse, «Deméter, a Venerada, a que regenera os homens e faz crescer as plantas. É meu desejo que se erga aqui um templo onde eu própria ensinarei os mistérios.»

Em seguida, desapareceu, deixando atrás de si uma claridade divina e os aromas maravilhosos de todas as flores da Primavera.

Zeus acabou por conceder a sua esposa o privilégio de tornar a ver Cora durante um terço do ano, ficando outro terço reservado a Hades que desposara aquela que ele raptara.

É este o primeiro mito de Perséfone.

Tranqüilizada, Deméter revelou aos soberanos de Elêusis: Triptoleme, Diocles, Emuope e Cheleos, os mitos que viriam a tornar-se célebres (Existem tantas versões como autores).

Alguns dão um lugar quase primordial a Dioniso, ou Baco (o deus Soma dos Arianos = bebida de iniciação), o que bastante associa os Mistérios aos mais antigos cultos arianos da Gália e das Índias.

Noutra versão, dada por Clemente de Alexandria, o Mistério começa com Afrodite (Vênus) e os Coribantas, ou Cabiros. Uma descrição da cena da bebida pedida por Deméter esclarece o rito do cesto (cofre) na tradição completamente falsificada.

Eis o texto de Clemente de Alexandria, que torna ridículo o que ele considera uma fábula de mau gosto:

«Contudo, Baubo (a rainha) recebe Deo (Deméter) na sua casa e apresenta-lhe a bebida chamada cyceon. Mas a deusa, dominada pela dor, afasta a taça e recusa-se a beber. Então Baubo, triste com este desprezo, despe-se e mostra-se em toda a sua nudez.

«Este gesto alegra a deusa e a vontade de rir que ela sente decide-a a tomar a bebida!

«Eis pois o que Atenas esconde nos seus mistérios, não o negueis, viso que tenho a meu favor a descrição feita por Orfeu.

«Citar-vos-eis os seus versos a fim de reproduzir, contra essa infâmia, o testemunho do próprio mistagogo: «Proferindo estas palavras, ela ergueu a sua túnica e desnudou as partes baixas do seu corpo, que se escondem aos olhares; a seu lado estava o pequeno Iaco que, com a mão, acariciava, rindo, a parte inferior do seio de Baubo; ao ver isto, Deo teve vontade de rir, e ela pegou então na taça decorada com pinturas na qual deitara o cyceon.»

«Eis um espetáculo admirável e muito conveniente para uma deusa!...

«Não há nada mais ímpio do que os mistérios... é uma lei sem valor, uma opinião vã, e o mistério do dragão não passa de uma mentira, como o resto.

«A iniciação que se lhe associa é o contrário da iniciação verdadeira.»

É certo que Clemente de Alexandria (160 D. C.) era um filósofo grego cristão e parcial por princípio, contudo não podemos senão aprovar as suas conclusões.

Incontestavelmente, os mistérios egípcios, há 4.000 anos, e os mistérios gregos, há 2.000 anos, eram paródias da iniciação autêntica, dos conhecimentos que a classe sacerdotal tinha completamente esquecido.

Daremos, adiante, um apanhado dos ritos de Elêusis, mas há boa razões para se crer que o mistério do cofre, tornado simples cesto, se referia a um falo de madeira ou de pedra, e a uma vulva, consistindo o «trabalho» na introdução de um na outra.

Compreende-se então toda a ironia do bom Clemente de Alexandria, num século em que o cristianismo, novinho em folha, não era senão pureza e espírito de sacrifício!

Aliás, devemos recordar-nos de que os Gregos eram fundamentalmente anti-religiosos, dando que a sua mitologia não era, em suma, mais do que uma sucessão de relações licenciosas, de incestos, de adultérios, de raptos e de outras brincadeiras de velhos guerreiros e de deuses olímpicos!

Na lenda de Elêusis, a aventura inicia-se com uma nota escabrosa: « Júpiter uniu-se a Deo, sua própria mãe, e depois a Prosérpina, sua filha. depois de tê-la gerado, desflorou Core.»

A propósito de um desses objetos encerrados no cesto, o falo, o bom Clemente indigna-se!

Evidentemente, ele ignorava que a sua própria religião cristã iria venerar a virgem de Airão, a amêndoas mística em forma de vulva irradiante que envolve as imagens da Virgem.

Amadores do erotismo, estetas e incrédulos por natureza, os Gregos tiravam o caráter sagrado às divindades integrando-as nas fábulas, como se, sabendo que os deuses tinham sido simples anjos iniciadores de forma humana, viris e por vezes sem escrúpulos, tivesse sido sacrílego assimilá-los a criaturas celestes...

O que, de resto, também não teria sido sério!

Para mais, o Olimpo dos Gregos era terrestre e tudo estava genialmente imaginado para atrair os deuses à Terra e abolir a distância que os separava dos mortais. Neste estado de espírito, a iniciação não podia ter um caráter religioso, pelo menos nas épocas historicamente conhecidas.

Os mistérios de Elêusis eram fundamentalmente os mesmos que os de Delos, consagrados a Apolo, e os de Samotrácia, dedicados aos Cabiros.

Em todos eles eram transmitidos os segredos dos Iniciadores vindos do céu, a sua identidade, a crença em outra pátria situada em uma estrela, a ciência da astronomia, da física, da química, dos encantamentos, da serpente voadora, do dilúvio, a lei infringível da preservação do patrimônio biológico humano e a necessidade de uma transmissão secreta.

Tais foram os segredos iniciais dos Mistérios, disto temos a certeza absoluta.

É de notar que, como acontecia com os Celtas (e no livro de Enoch), a iniciação a Elêusis é dada por uma mulher: Deméter, com o ritual da bebida mágica: ambrósia ou cyceon.

Os Druidas Eumolpe e Musée, que foram grandes Mestres, ensinavam, de preferência, mulheres.

Consideram-se por vezes os Mistérios de Elêusis como provenientes dos Mistérios Cabiros Fenícios, os quais descendiam dos Mistérios Druidas votados a Taliesin, filho de Korrigan ou Gwyon, e de Koridwen.

No rito, o «cofre» tinha dupla importância: intrínseca, primeiro, e depois por encerrar o segredo «dos objetos».

Como os mistérios foram instituídos para transmitir o conhecimento depois do dilúvio julgamos que o cofre representava a arca, o barco que salvou alguns seres humanos.

Nos arredores de Roma, em 1696, descobriu-se um vaso que tinha a forma de um pequeno barril. Datava de uma época grega muito antiga, e continha vinte casais de animais e mais de trinta e cinco figurinhas humanas, todas elas na postura de pessoas que procuram escapar a uma inundação. As mulheres eram representadas aos ombros dos homens.

Pensa-se que este vaso servia para as festas chamadas Hidroforias, as quais, segundo Apolônius citado por Suedas, se celebravam em memória dos que tinham perecido no dilúvio.

Vasos semelhantes teriam servido nos mistérios de Elêusis.

Tudo isto se tornou bastante compreensível, muito razoável para o nosso espírito de homens do século XXI, mas há dois ou três mil anos a Criação do Mundo (Omphalos), a refração da luz e as funções da glândula pineal constituíam mistérios tão grandes que só os iniciados os conheciam, não sendo conveniente revelá-los à «maioria».



Os ritos Eleusinianos do período decadente eram tidos pelos sacerdotes tanto mais secretos quanto a Verdade é que em nada os compreendiam. Assim, entendiam ser indispensável, para manter uma aparência de dignidade, adotar ares misteriosos e dar aos objetos um significado nebuloso.

As Eleusínias, celebradas, originalmente, de cinco em cinco anos, tinham por oficiantes os sacerdotes, ou Hierofantes, e as sacerdotisas, ou Tisíades, coroadas de mirto e portadoras de uma chave, símbolo dos mistérios.

Decorriam durante, pelo menos, duas semanas, sendo nove os dias principais:

1º – dia da reunião dos neófitos.

2º – chamado «alaze, mystoï» (para o mar, mistos!): purificação pela água.

3º – jejum = preparava-se o leito nupcial da virgem divina. À noite, interrompia-se o jejum comendo bolos de cevada e dormideira, e bebia-se cyceon, bebida sagrada.

4º – procissão do calathus (cesto).

5º – dia dos archotes, com procissão noturna.

6º – dia da partida de Atenas para junto de Elêusis. Cultos de Ceres, de Iaco e de Dionísio.

7º – dia do regresso ao templo, com cerimônias da figueira sagrada e brincadeiras da ponte. Esta ponte era a Cephise, por onde passava a procissão por entre a gozação e brincadeiras maliciosas da multidão. Aliás, a procissão tomava parte nelas.

8º – Cerimônias dedicadas a Esculápio que, em tempos tendo chegado nesse dia a Atenas, vindo de Epidauro, depois das cerimônias, foi iniciado à noite, costume que se perpetuou para todos os que se encontravam nas mesmas circunstâncias.

9º – e último dia, chamado plémochoé, do nome de dois vasos que se enchiam de vinho colocando-os um a ocidente e outro a oriente. Depois do que eram quebrados, ao mesmo tempo que se pronunciavam palavras mágicas.

O sentido deste símbolo é claro: «O conhecimento (os vasos) vinha do ocidente através dos Pélagos - Celtas, e do Oriente, pelos indo-europeus e os Persas. Os vasos podem ser partidos, a sabedoria foi já transmitida ao iniciado.»

As Eleusínias celebravam-se na Primavera e no Outono, os dois períodos de sementeira dos grãos, correspondentes aos pequenos e grandes Mistérios obrigatórios para todos os iniciados.

Existia também um grau superior, a Epóplia ou Autópsia (do grupo autos = ele próprio, e opsis = vista), isto é, visão interior, êxtase, pondo em comunicação com Deus e buscando um poder paranormal.

A iniciação era pois dada no templo de Deméter, situado no lado da colina, sob uma fonte; a entrada do santuário era proibida aos profanos, sob pena de morte.

O jejum incidia principalmente sobre a carne de aves domésticas, peixe, favas, romãs e maçãs (fruta do conhecimento).

Os Hierofantes a fim de melhor suportarem a abstinência, tinham autorização para beber sumo de cicuta (a cicuta é um veneno, mas dosada, possui virtudes medicinais e alucinógenas).

Na ilha de Céos, no mar Egeu, na antigüidade, os anciães inúteis à pátria deixavam habitualmente a vida bebendo cicuta.

Perto do fogo do sacrifício estava «o filho do lar», que tinha de ser de puro sangue ateniense, nos últimos tempos, iniciavam-se os homens, as mulheres e as crianças, com excepção dos bárbaros, dos assassinos, e dos cristãos.

Os ritos misteriosos tinham lugar durante vigílias sagradas, em Elêusis: percursos nas trevas, provas de terror e de ansiedade, visões de objetos aterradores, vozes misteriosas e desconhecidas, e depois fulgor e fantasmas que desapareciam por alçapões... numa palavra, todo o arsenal bem conhecido da Iniciação!

O momento mais importante e sem dúvida o menos afastado da verdade primitiva era o confronto dos objetos misteriosos e a revelação das palavras sagradas.

Clemente de Alexandria dá um resumo desses Mistérios:

«Eis», diz, «na fórmula Eleusiana: jejuei, bebi cicuta, peguei no que havia dentro do cesto e, depois do meu trabalho, coloque tudo na bolsa; em seguida, pegando outra vez naquelas coisas, coloque-as dentro do cesto.»

A cicuta não é a bebida simples reclamada por Deméter: água, cevada, dormideira, embora semelhante mistura se revele, a priori, nitidamente alucinógena.

Segundo os autores antigos, essa bebida compunha-se principalmente de cevada primitiva, leite, mel, azeite ou vinho, mas há tantas receitas quantos os autores!

Aquele que a bebia devia adquirir o conhecimento do passado e responder de às perguntas do Hierofantes.

Quanto aos «objetos misteriosos» encerrados no cofre, temos uma lista que certamente seria maior ainda com a superstição, a ignorância dos sacerdotes e a deturpação do segredo inicial: as seis cores do arco-íris, as seis plantas «eficazes», um falo, uma vulva, um Omphalos (ovos primordial), uma serpente (a iniciadora), trigo, mel, uma pinha (símbolo da glândula pineal, ou 3º olho), um torrão de terra, um «maná» e os xoanon (Parece haver uma aproximação etimológica a fazer-se entre o xoana, pedra negra, e o xoarcam, o primeiro dos cinco paraísos da mitologia hindu. No xoarcam, trinta e três milhões de deuses e quarenta e oito mil penitentes julgados dignos da felicidade vivem uma existência paradisíaca entre mulheres maravilhosamente belas, sensuais e sábias) pedras negras milagrosamente caídas do céu no reinado de Cécrops e às quais estava ligada a fortuna de Atenas.

A tudo isto acrescentar-se-iam ainda os bustos de deuses e deusas, «ídolos de madeira mal talhados», dizia Tertuliano, dos quais alguns estavam enlaçados por serpentes, comemorando assim a união fecunda das mulheres terrestres com os Iniciadores do Céu. A manipulação desses objetos devia, na crença geral, transmitir as forças misteriosas que os habitavam e estabelecer uma espécie de filiação divina.

Uma Iniciação era custeada pelo neófito devido aos custos da Escola e custava trinta dracmas, mais um porco e ainda uma gratificação aos Sacerdotes de Elêusis.

Loki


Loki é uma das figuras mais complexas do panteão nórdico. Um deus morador do Asgard (Olimpio nórdico), sem templos que lhe fossem consagrados. O desenvolvimento de sua figura através dos tempos está intimamente ligado às vivências na vida e cultura nórdica. Além da influência posterior pelo contato com o cristianismo. Os primeiros contos referentes à Loki descrevem-no como bom e companheiro de Odin. Aos poucos se transforma num ser malévolo e diabólico. A idéia de mal e diabo não existia dentro da concepção nórdica. Este aspecto se caracterizou pelo contato com o universo cristão -- onde o bem é dissociado do mal, com se fossem coisas excludentes.
Por mais de um século estudiosos explicam sucessivamente Loki como o deus do fogo, do trovão, ou da morte, um reflexo do diabo cristão ou um herói civilizador, comparável a Prometeu. Em 1933, Jan de Vies aproximou-o do trickster, personagem ambivalente, próprio das mitologias norte-americanas. Sucessivamente este personagem sofre transformações nas interpretações relativas a ele. Por ter muitas faces pode ser amplamente compreendido, associado ou confundido. Em minha visão todas as versões são uma parte, pequenas partes, que postas juntas formam um todo maior e profundamente simbólico. Estas múltiplas faces de Loki e as inúmeras possibilidades de interpretá-lo e mesmo as dificuldades de classificá-lo tornam Loki um personagem rico e intrigante.
Peguemos carona na imagem do diabo (conhecido também por outros nomes como: Lucifer, Satã, Príncipe das Trevas etc.), como Loki também foi qualificado. Em diversas culturas antigas estas figuras, com perfis semelhantes a este deus, também não tinham conotação maléfica, eram uma parte intrínseca pertencentes a dinâmica do todo. No pensamento grego os demônios são seres divinos ou semelhantes aos deuses pelo seu poder. Inicialmente o demônio era identificado pela vontade divina, só depois que passou a representar deuses inferiores, e, por fim, espíritos maus. Sua função é de intermediário entre deuses e seres humanos, como conselheiros secretos, agindo por intenções súbitas.
É preciso destruir para ser possível a renovação, como na tradição hindu, Shiva é o destruidor, ele destrói para construir algo novo. Sendo assim Shiva e Loki podem ser vistos como elementos "renovadores" ou "transformadores". A união dos opostos de modo dinâmico faz surgir a “completude” do ser, o equilíbrio Yin e Yang que na verdade funciona numa dinâmica fluída da instabilidade. O fato de dissociarem o bem do mal trouxe conseqüências psíquicas a todos nós. Temos que compreender como funciona esta situação psíquica e reverter este quadro para caminharmos, segundo Jung, para a individuação ou “inteireza do ser”. A individuação não é algo bucólico ou um jogo de cartas marcadas, e que se andarmos conforme os mandamentos atingiremos a esta tal individuação ou paraíso de paz eterna. Neste percurso não há ponto final, nem equilíbrio estático. Buscaremos, a partir de agora, compreender o mito do ponto de vista histórico, cultural e psíquico; assim como seu conteúdo simbólico, para que possamos então compreender que fogo é este que Loki representa ou alavanca no ser humano.

Loki -- Descrições Mitológicas

No panteão nórdico existem duas famílias divinas, os Asses e os Vanes. Loki, que também era considerado um deus, não pertence a nenhuma dessas famílias, vive com os deuses no Asgard (morada divina). Conta o mito que ele pertence a raça dos gigantes. É filho de Laufey e Farbauti (aquele que batendo faz sair fogo). Loki, na raiz germânica, etmologicamente significa fogo ou chama.
Seus filhos são Hel e Nari. Hel (correspondente de Hades na mitologia grega), era rainha dos infernos. Somente em textos mais recentes é que Hel aparece com filha de Loki, sem dúvida influenciado pelo cristianismo. Sua morada não deve ser considerada um lugar de tormentos e castigos, esta concepção era estranha aos antigos nórdicos. Pouco se sabe de Nari. Loki engendrou os grandes monstros como o lobo Fenir e a serpente Midgard (monstro terrível que constantemente ameaçava os deuses; seus anéis eram grandes o bastante para abarcar todas as terras conhecidas pelos homens). Por isso em algumas versões estes são considerados seus filhos, sua criação.
Loki é inventivo e atrevido, sua curiosidade é insaciável. Ele possui numa montanha um observatório mágico, que lhe permite tudo observar sem nunca ser visto. Assim como Mercúrio, Loki tem um par de sandálias mágicas dotadas de asas, que lhe permite deslocar-se rapidamente quando é necessário. Nunca se sabe qual será seu próximo passo, ora foge, depois volta para em seguida fugir e voltar triunfante. Sua descrição física é descrito como pequeno em estatura, de olhos vivos e malignos, porém, belo e sedutor.
No inicio, Loki é o inseparável companheiro de Odin, junto com ele enfrentou inúmeras batalhas com os gigantes. Assim como Odin, Loki é perito em transformações corporais. Seu disfarce predileto é metamorfosear-se em mulher. Sua sabedoria fazia dele conselheiro dos deuses. Ninguém pode gabar-se de conhecê-lo perfeitamente. Muda como o vento. Conhece todas as fraquezas e faltas dos deuses e deusas. Deitou-se com todas as deusas, e não hesita em caluniar e denunciar os segredos alheios quando mais lhe convém. Mesmo com todo seu aspecto negativo, suas calúnias e suas fraudes, Loki sempre prestava precioso serviço aos deuses.
Como é o caso da célebre aposta que fez com os irmãos Brokk e Sindri (anões-ferreiros). Loki apostou que eles -- Brokk e Sindri -- jamais poderiam fazer objetos tão maravilhosos como os filhos de Ivaldir (pai de outros anões-ferreiros) haviam feito. Eles aceitaram o desafio, e logo se puseram a trabalhar. A fim de perturbá-los, Loki transformou-se numa abelha, e picava-os sem parar. Porém, os anões deram cabo da tarefa e construíram objetos magníficos. O anel Draupnir, o javali de ouro e o famoso martelo de Thor. Os deuses jamais tinham visto coisa igual.
Loki tinha perdido a aposta, e sua cabeça pertencia aos anões. Quando quiseram prendê-lo este já estava longe, talvez no ápice do mundo ou nos abismos das águas. Sua sandália mágica o transportava a qualquer lugar do mundo. Os anões queixaram-se a Thor, que prendeu Loki e o entregou aos vencedores. Brokk avisa-lhe que vai cortar sua cabeça, mas a eloqüência de Loki é tal que por fim só costuraram-lhe os lábios, a fim de que não pudesse mais falar. Mesmo com enorme dor, Loki retira o fio e escapa são e salvo.
Seu comportamento é desconcertante. De um lado é companheiro dos deuses e gosta de combater seus inimigos, os gigantes; manda anões forjarem certos objetos mágicos e acaba dando-os para os deuses. De outro lado é mau, amoral e criminoso. É autor do assassínio de Baldr, e disso se vangloria. Inúmeros mitos se acumulam em torno de Loki, que desempenha um papel em quase todas as farsas e histórias, põem em cena os deuses e os gigantes.
Nunca ninguém definitivamente conseguiu pegá-lo ou prendê-lo. Numa das versões, somente depois de confessar o crime da morte de Baldr (o deus da luz) é que Loki foi capturado pelos deuses. Como punição amarraram-no a uma pedra, onde havia acima uma cobra lançando veneno sobre seu rosto, queimando-o e causando-lhe terrível agonia.
Outra versão nos fala sobre um banquete no palácio de Aegir (deus dos mares), onde Loki não foi convidado, por causa de sua língua venenosa. Reuniram-se todos os deuses e deusas, exceto Thor (que percorria os países do Este). De súbito Loki irrompe na sala, todos se calam a sua vista. Humildemente pede que lhe concedam um copo, e, lembra aos presentes que não se nega jamais a um copo a um viajante cansado. Ninguém responde. Loki, sempre cortes, solicita o favor de sentar-se. Como mandam as leis da hospitalidade, e os deuses desejosos de respeitar o costume, dão lhe lugar à mesa.
Ao sentar-se, com precisão admirável, começa a lembrar a cada um os episódios mais escandalosos de sua vida. Às deusas recorda adultérios, com particularidades e minúcias, e, logo a seguir, vangloria-se de ter possuído todas. Sif, esposa de Thor estende um copo de hidromel pedindo-lhe que ponha fim aquelas informações escandalosas. Mas ele, zombador, lembra-se dos momentos em que ela, feliz e uivando de prazer, passara nos seus braços. Diz: A esposa do Todo-Poderoso Thor... Mal seu nome fora pronunciado, Thor aparece na sala chispando fogo, e com o martelo quis estraçalhar-lhe o crânio. Mas Loki já estava longe, sempre insultando e ofendendo. Semelhante audácia, porém, não podia ficar impune. Os deuses conseguem apoderar-se dele, que se transforma num salmão. Amarram-no com as tripas de seu próprio filho, Nari. E Loki, por muito tempo, permanecerá prisioneiro dos deuses. Até o final do mundo, dia da grande vitória, em que ele se libertará mobilizando todas as forças do mal e da destruição.

Compreensão do Mito

loki, o deus da trapaça?Para melhor compreensão do mito faremos uma interpretação comparativa com outras mitologias, e com os elementos simbólicos que acompanham os mitologemas, ou seja, subdivisões do mito que facilitam sua compreensão. Parto do princípio que todo os mitos tem uma mesma raiz e fazem parte do mesmo universo arquetipico da humanidade. Muito pode ser aprendido e integrado ao se aprofundar em suas partes.
Os 4 ELEMENTOS
É interessante perceber como Loki nos remete a uma relação com os quatro elementos: Fogo, Ar, Água e Terra. Estes elementos podem ser usados de modo positivo ou negativo, destruidor ou regenerador, dependendo de como lidamos com eles, ou dependendo do contexto em que se apresentam.
Fogo: O fogo tem inúmeras faces, ele tanto pode aquecer e propiciar conhecimento intuitivo --o fogo que ilumina, aquece e transforma ou destrói e aniquila. Em outra faceta, o fogo simboliza o calor das paixões. Loki encarna e vivencia todas essas possibilidades. A própria significação de seu nome nos remete a chama ou fogo. Ele tanto é capaz de destruir e de engendrar figuras terríveis, como é capaz de criar, através dos anões ferreiros, objetos preciosos para os deuses. Para os alquimistas enxofre puro gera fogo, porém enxofre arsenicado se transforma em fogo devorador.
Aos poucos, Loki passou a manifestar ou ser visto como o lado devorador do fogo. Como em Jó, o enxofre aparece como símbolo de infertilidade, de aspecto inferior e infernal. O aspecto luz, o ouro, a cor amarela, no sentido infernal detonam o egoísmo, o orgulho, que só busca a sabedoria em si mesmo, dito também enxofre satânico. É símbolo de culpa e punição e era usado pelos pagãos para purificar os culpados. O enxofre arsenicado, também foi considerado anti-luz e atribuído a Lucifer.
Porém, Loki apresenta inúmeras formas de lidarmos com o fogo. Mostra as possibilidades de seu manejo. Loki não corresponde a uma chama já purificada (porém purificadora), sua simbologia nos remete a alguém que está ensinando o que o fogo pode gerar. É batendo que faz sair fogo, ou seja, vivendo, experimentando e se confrontando que somos transformados. Ele é ligado ao fogo pela sua inteligência intuitiva e também seu poder sedutor. E como está o nosso fogo? Como lidamos com ele? Nosso poder sedutor, nosso poder gerador, como vivemos e nos confrontamos com a vida? Loki, neste contexto, sinaliza as possibilidades de vivenciar e nos lembra a importância de nossa intuição.
Ar: seu lado aéreo é representado pelas sandálias que o levam a qualquer lugar do mundo. Sua eloqüência, com o ar que ele inspira. Ele pode transformá-las tanto para fins positivos e altruístas como quando funciona como conselheiro dos deuses. Da mesma forma que, se for usado com fins maléficos e egoístas, cria-se intrigas e calúnias. Nós também podemos usar nosso Ar para inúmeros fins, depende única e exclusivamente de nossas metas. Como usamos e desenvolvemos nossa inteligência? Como usamos nossas palavras e nos comunicamos? Tudo isso é Loki, bem ou mal encarnado.
Terra: Este aspecto vem da sua relação direta com os anões ferreiros, que vivem em cavernas e utilizam tesouros contidos na terra como sua matéria prima. Somente Loki tinha acesso aos anões. Estes só poderiam ter criado aqueles objetos magníficos com o desafio que Loki lhes propôs, onde ele apostou sua própria liberdade. Na transformação destes elementos brutos contidos (os metais) na natureza, só e possível se tivermos fogo e água.
Nós também podemos fazer uso desse poder, podemos usar as forças e energias imanentes da natureza em nosso favor, energeticamente e materialmente falando. Na alimentação nos fortalecemos, o contato direto com a natureza nos refaz, dá vida, e até mesmo as forças sutis dos chakras devem ser alimentadas com a força da natureza. Cabe a nós transformar a energia, absorvermos a energia do cosmos e da natureza e processá-las conforme a qualidade do nosso pensamento. Esta energia colabora com a regeneração e desenvolvimento do corpo e do espírito. Temos que usar bem a força que a terra nos dá, senão nossa própria natureza se volta contra nós.
Água: a água é importante para inúmeros fins, sem ela não se pode forjar a espada (fogo) e objetos preciosos. Como todos os outros elementos, também tem dupla face. Representa a morte e a vida, é o princípio regenerador ou destruidor. É a volta ao princípio, o feminino e o Yin. Somente Loki pode chegar ao abismo das águas e entrar em contato com esse elemento.
Na mitologia, Loki acaba sendo o representante do mal uso desses elementos, ele incorpora o lado que, em geral não gostamos de ver nesses elementos, por mais que sejam necessários e representantes do equilíbrio e da completude do todo maior. O ser insuportável que Loki foi se tornando através dos tempos também revela a oposição bem versus mal que a cultura humana foi encenando. Separação corpo de espírito e alma.
LOKI E O DIABO
O Diabo também exprime a combinação dos 4 elementos. Por Loki ter um perfil semelhante ao mesmo, ficou sendo um excelente representante do diabo malvado para os nórdicos. Estava sempre em contato com forças malignas, engendrou os grandes monstros como o lobo Fenir e a serpente Midgard, e nunca lhe faltavam disfarces. Além disso, é descrito como tendo uma pequena estatura, olhos vivos e malignos, mas belo e sedutor. Assim como algumas das versões do diabo universal.
Na representação simbólica: diabo, dragão, serpente, guardião do limiar (monstro), sinalizam encerramento e limite, além de representar nossas emoções indiferenciadas. Passar além desse ponto é maldito ou sagrado, é queda ou ascensão. O diabo representa todas as forças que perturbam e inspiram cuidados, pois se referem à liberdade, ao livre arbítrio que deve ser sabiamente vivido. Os limites são importantes mesmo que seja necessário aprender a lidar com eles. Sem deixar que ele nos prendam e sem quebrá-los de repente (gerando o estado de loucura, dissociação do ego e desequilíbrios diversos). É nesse momento que o Diabo representa as forças desintegradoras da personalidade, o enfraquecimento da consciência. Podemos ilustrar com o acontecimento deplorável, que chocou todo o mundo, dos adolescentes de classe alta que queimaram vivo o índio da tribo Pataxó. Isto mostra o lado destruidor, a falta de limites. Quando a sociedade e sua célula, a família, não consegue educar seus filhos e cidadãos com os limites necessários, cria-se aberrações como estas.
Mas esta é somente uma faceta da uma compreensão total desta imagem. A sabedoria é tomar o caminho do meio, usar os limites como pontos a serem reconhecidos, trabalhados, vencidos e transpostos. Dentro da imagem dos monstros diabólicos, está a representação de todos os complexos e defeitos psicológicos, que devem ser trabalhados e transformados. Dragões e serpentes nos remetem a imagens de ódio e de mal; dominando-os vencemos a ignorância e a obscuridade. Monstros são eliminados nas sagas mitológicas, os limites são transpostos. Quando não conseguimos seguir adiante, ou seja, quando o limite nos estagnou, é sinal que seu lado maligno virá à tona de alguma maneira, só que de modo destrutivo.
Por não aceitar-mos o mal em nós, projetando-o nos outros, nasce o preconceito. Os conteúdos reprimidos e não aceitos, aparecem nos outros. E enquanto não aceitarmos somos atingidos, direta ou indiretamente. De quem é a culpa? De todos nós, por não seguirmos a senda do auto-conhecimento, e assim vivermos projetando fora tudo que não aceitamos em nós.
Para os cristãos, que introduziram esta dissociação, Loki representava amoralidade, e este ficou sendo sinônimo de pecado, profano e imoral. Como decorrência da mudança de visão que atingiu o povo nórdico, os contos mitológicos passaram a descrever Loki mais carregadamente e os próprios deuses passaram a censurá-lo. Surge uma visão unilateral e demoníaca de Loki.
Comparando Loki com a carta XV do tarô -- o Diabo: o Anjo Negro...Ou Lucifer, o anjo caído pelo fato de não concordar e revoltar-se contra Deus, Tornou-se maléfico. Em outras palavras, buscou sua liberdade e seu direito de escolha. A figura do Diabo é tão ambígua que muitas vezes não sabemos, nem se pode saber, exatamente o que está pretendendo fazer. Ele nos instiga a desobedecer. Mas senão fosse o seu provocamento à ação e ao conhecimento, estaríamos até hoje feito criancinhas, presos na roda idílica do paraíso seguro, mas limitado.
Por isso somos seres condenados a sermos livres, a escolhermos. Sem essa liberdade não pode haver moral verdadeira. Porém enquanto estivermos presos a códigos morais externos, nunca seremos livres, enquanto não decidirmos enfrentar nossos próprios Diabos interiores -- seja qual for a forma que possam possuir -- não seremos humanos.
Que qualidade específica representa o Diabo? É uma mistura de partes, fica difícil fixá-lo ou enquadrá-lo. Mas é assim que deve ser, pois, de acordo com Jung, qualquer tipo de função psíquica separada do todo e que opera autonomamente é diabólica. Estar servil, inconsciente e preso, nem que seja ao mais altruístico dos códigos, marca seguramente uma criatura do Diabo, no seu aspecto dissociado e negativo.
A natureza exata dos demônios ninguém explica -- diz Arnold Mindell --, porém um dos nossos piores demônios são as atitudes insensíveis perante nosso corpo.” Por não seguirmos seu fluxo, por não ouvirmos seus sinais, por não deixarmos que ele nos auxilie, há um bloqueio da energia vital de nosso corpo, e assim muito facilmente ficamos doentes. “Quando finalmente as pessoas sentem o interior de seu corpo, experimentam uma solidão e tristezas extremas, porque o centro de seu ser foi negligenciado, na afã das pressões do dia-a-dia.”
INQUISIÇÃO E LIBERDADE
Sua curiosidade é insaciável, Loki também é inventivo e atrevido. A curiosidade faz de nós seres que buscam aprender mais e mais. Não falo da curiosidade sobre a vida alheia, mas a curiosidade saudável, que nos leva para frente, descobrindo e desbravando nosso ser e o mundo em que vivemos (interno e externo). Muitas vezes a curiosidade e, principalmente, o atrevimento é vista com olhos negativos, pois significa liberdade. Esta é mais uma distorção que fomos obrigados a aceitar pelos ditames cristãos. Que consolidou-se na época da inquisição.
A inquisição condicionou o espírito de seu tempo, e seus reflexos manifestam-se até hoje. Além do prejuízo pela caça às bruxas. Ela consagrou a delação, todos eram suspeitos. Um filme que ilustra muito bem a loucura daquela época é: “As bruxas de Salem”, ele é angustiante e realista, nos faz pensar sobre o uso indiscriminado do racionalismo para justificar questões absurdas. Para escapar da morte as pessoas recorriam à mentira, à dissimulação.
Vemos como essas formas aos poucos foram absorvidas e incorporadas ao nosso comportamento cultura, político e social. Nosso comportamento passou a ser falso e diabólico. Será que já nos demos conta disso? Em nossos dias ainda usamos dos mesmos artifícios racionais do passado, alguns usam de maneira discreta, outros não. Somos falsos conosco e com nossos sentimentos mais íntimos. Realmente, naquela época ninguém mais podia ser livre em seus pensamentos e palavras, toda curiosidade foi substituída pela aceitação e imposição de verdades feitas e prontas. As experiências se tornaram proibidas e mesmo satânicas (na concepção pejorativa), pois havia normas inquestionáveis que “salvavam” a todos -- na verdade, impediam-nos de viver quem realmente eram.
Carregamos e, muitas vezes, somos coniventes com os comportamentos sufocantes do passado. Eles vivem em nós hoje, limitando sentimentos, limitando nossa busca e dificultando a aceitação do diferente. Funcionam como um freio, gerando medo de lidar com o desconhecido, com o que não temos controle. A liberdade passa a ser ameaçadora, assim como o Diabo. Compreendendo este fato, poderemos quebrar os grilhões que por séculos nos sufocaram e vêm nos petrificando.
Sabemos que não adianta jogarmos a culpa na igreja e na inquisição, isso também é projetar fora, é culpar algo exterior e nos eximir de responsabilidade pelo nosso crescimento. Foram homens como nós que criaram essa situação; é importante que conheçamos o fato para lidarmos melhor com as causas psíquicas, culturais e políticas. Mas não para eximir-nos da nossa responsabilidade diante do crescimento próprio. Somos nós, e mais ninguém, que temos que quebrar essas algemas.
Vemos até nossos dias pessoas chamadas religiosas, aquelas que sabem tudo -- o que é certo e errado, o que fazer e o que não fazer. Como nos lembra Osho: “Pessoas religiosas e que tem consigo todos os mandamentos, tornam-se teimosas e insensíveis. Sua caminhada parou, elas não estão crescendo em absoluto.”
LOKI E MERCÚRIO
Loki possui, numa montanha, um observatório mágico que lhe permite tudo observar sem nunca ser visto. Assim como Mercúrio, Loki tem um par de sandálias mágicas dotadas de asas que lhe permitem deslocar-se rapidamente quando é necessário. Nunca se sabe qual será seu próximo passo, ora foge, ora volta para depois fugir e voltar triunfante. Nunca ninguém, definitivamente, conseguiu pegá-lo ou prendê-lo.
Sua sabedoria fazia dele conselheiro dos deuses. Ninguém pode gabar-se de conhecê-lo perfeitamente. Muda como o vento. Conhece todas as fraquezas e faltas dos deuses e deusas e não hesita em caluniar e denunciar os segredos alheios quando mais lhe convém. Mesmo com todo seu aspecto negativo, suas calúnias e suas fraudes, Loki é o conselheiro dos deuses.
Estes aspectos ligam-no ao elemento arPodemos relacioná-lo com Mercúrio. Na alquimia, o mercúrio tem o poder de purificar e fixar o ouro e isto simboliza libertação. Mercúrio ou Hermes mitológicos são providos de asas nos pés, simbolizando o princípio de ligação. Ele podia estar rapidamente em vários lugares trazendo e levando mensagens, assim como Loki.
Olhando o caduceu, que tem a natureza dualista, vemos que ele confronta princípios contrários e complementares: trevas-luz; feminino-masculino... A circulação interna, dos opostos, quando é realizada, constitui condição básica para o desenvolvimento da inteligência. Onde podemos então separar as coisas, e não mais confundir-nos com elas. Tomamos distância em relação a nós mesmos e nos conhecemos melhor.
Igualmente Loki e Mercúrio bem vividos representam força auxiliar do ego, que nos desviam das seduções da subjetividade obscurecedora e nos orientam nas encruzilhadas. É a dupla pressão dos impulsos internos e externos. Loki então, passa a ser o melhor agente de adaptação da vida. Tudo isso só pode ter uma força real em nossas vidas quando permitimos vivenciar com equilíbrio o princípio arquetípico que nos remete estas figuras. Tendo atenção e auto-enfrentamento constantes podemos desenvolver equilíbrio. Olhamos fora e dentro ao mesmo tempo. Por vezes desistimos, e acabamos jogando o potencial positivo de Loki para a sombra ou para as obscuras profundezas do inconsciente. Somos então obrigados a viver seu lado destruidor, compulsivo, inconsciente, criador de intrigas e dificuldades.
LOKI E ODIN
No início, Loki e Odin eram companheiros inseparáveis. Da mesma forma que Cristo era a mão direita, e Satã a mão esquerda de Deus. Ou na visão Judaico-cristã, os dois filhos de Deus, sendo Satanás o mais velho e Cristo o mais novo. Mas a medida que o cristianismo avançou, separou-os -- opostos complementares --, e o demônio passou a ser figura incômoda do(s) Olimpo(s). Impôs-se o princípio dissociativo: “Todo bem provém de Deus e todo mal provém do homem”.
O Diabo passou para o âmbito da psicologia. Como arquétipo, perdeu sua “realidade imaginária”. Ele se identifica agora com a consciência individual, influenciando e transformando segundo suas tendências. A psicologia é uma das formas de lidarmos com o “demônio”. Durante seu processo podemos descobrir o paradoxo percebidos por muitos artistas: aquilo de que fugíamos e que reprimíamos, acaba se tornando fonte de eterna vitalidade, da criatividade e da autêntica espiritualidade.
Assim como Odin, Loki é perito em transformações corporais, seu disfarce predileto é metamorfosear-se em mulher. Faz dele um conhecedor de seu mundo feminino, ele mantém diálogo entre partes opostas. Jung nos lembra da importância de integrarmos nossa anima (o lado feminino nos homens) e o animus (o lado masculino nas mulheres), para chegarmos a completude do ser. Devemos desenvolver todas as facetas de nosso ser, assim como Loki nos mostra; ora se comportava como mulher ora como homem, ou qualquer coisa que quisesse ser. Isso lhe dava versatilidade, jogo de cintura e sabedoria.
Tirésias, o sábio cego da mitologia grega, viveu 7 anos como mulher. Ele tinha, portanto, a experiência dos dois sexos. Talvez, por isso, Loki também seja sábio e sempre possa ser conselheiro dos deuses.
No geral, é difícil as pessoas viverem seu lado metamorfoseado (ou suas personalidades internas, não aceitas pelo ego), sua capacidade de agir diferente, sua flexibilidade. Não estou falando de falsidade, falo de dar liberdade aos personagens viventes em nós, e proporcionarmos um maior crescimento, viver e experimentar. As vezes o máximo que chegamos a dizer é: -- “Se eu fosse você...”, isso já é um avanço, porém ainda é pouco. A possibilidade de se fantasiar e viver outro personagem, também faz bem ao nosso desenvolvimento psíquico. É preciso, acima de tudo, manter um diálogo entre nossas figuras internas (o padre, a prostituta, o menino, a dançarina, a mãe, o pai, o filho, o monstro etc.)
LOKI E BACO-DIONISIO
A mitologia em geral mostra o reflexo de uma cultura, o reflexo do povo e de seu tempo. Fala de elementos que moram no inconsciente coletivo. É interessante percebermos que os nórdicos e principalmente os Vikings, eram alegres gostavam de festas, bebedeiras, de jogos e diversão. Loki também é o representante deste lado. Possui bom humor também, apesar deste lado não ser muito divulgado.
Dionisio foi considerado demoníaco, por ser o símbolo do entusiasmo e dos desejos amorosos. Psicologicamente falando, Baco e Loki representam a ruptura das inibições, das repressões e dos recalques. Igualmente são os deuses das formas inumeráveis. Simboliza as forças disssociadoras da personalidade, a regressão para as formas caóticas e primordiais da vida. A libertação de Dionisio pode ser espiritualizante ou materializante, fator evolutivo ou involutivo da personalidade. E isso em geral causa insegurança e medo.
Dionisio simboliza em profundidade a energia vital tendendo a emergir de toda sujeição e de todo limite. Além disso, quando temos bom humor quebramos a rigidez, podemos rir de nós mesmos e tornar a vida mais leve. Mas as imposições culturais geralmente não vêem com bons olhos este tipo de comportamento, somente a boa a educação e a seriedade são aceitos. Está é a seriedade que é dura, mal humorada e retém o fluxo interno. Impede que se lide com dificuldades, pois elimina a flexibilidade e acaba obstruindo a vitalidade pessoal. Quando menos esperamos, explodimos em fúria perdendo a paciência e a esportiva. Há um ditado que diz: “Zangar-se é fácil, difícil é zangar-se na hora certa, com a pessoa certa, no lugar certo”. E para adquirirmos esta sabedoria precisamos liberar o lado positivo de Loki-Dionisio, onde mora a beleza, a alegria, o bom humor e o prazer.
LOKI ANTES DE SUA PRISÃO DEFINITIVA
A pressão do cristianismo, era para ter controle das pessoas e cercear sua liberdade, com o slogan “A salvação do fogo dos infernos” ou algo parecido. Desejosos, ou necessitados de esconderem as próprias falhas, venderam uma visão paradisíaca. Mas para isso precisou-se de Loki, e seus correlatos, para a execução desse ideal. Passou-se então uma imagem que somente os cristãos poderiam ser libertos, ou somente a conversão poderia libertar-nos do Diabo, ou expurgar os “pecados”. Esse pode ter sido o início do marketing e da propaganda, onde vendeu-se libertação do pecado e um pedaço do paraíso, mas somente depois da morte. Como depois da morte ninguém pode voltar para reclamar, talvez essa seja a melhor estratégia de venda, e só se faz possível a pessoas que não se questionam, não se interiorizam na busca de desenvolver seu Ser, com sinceridade -- olhando para dentro de si -- e seguindo seu fluxo interno.
Com a influência cada vez maior do cristianismo e seus dogmas, Loki foi pego como bode expiatório. Nos contos mitológicos, ele passa a se comportar cada vez mais de maneira atrevida, insolente, zombeteira e maléfica perante os deuses. Ele incorporou de vez seu lado maléfico e diabólico. Vemos isso na descrição do banquete, onde Loki ultrapassa todos os limites. Pois, como nós, nenhum dos deuses suporta que suas faltas sejam anunciadas em público. Ninguém aceita seu lado amoral e livre. Loki é “obrigado” a entrar na festa sem ser convidado, e quando menos se espera, denuncia e delata todas as obscenidades, que os deuses desejam guardar ou mesmo esquecer.
Podemos identificar Loki como aquela voz interna que incansavelmente nos culpa, nos diminui e angustia. Qualquer pequeno deslize causa medo e insegurança, ele sempre está por perto a chamar atenção e nos encher de recriminações. Certamente esses sintomas sinalizam que Loki -- o inconsciente ou a sombra, segundo Jung -- quer vir à tona. Quer ser convidada para a festa, ou em outras palavras, quer ser reconhecido pelo ego. Ele quer colaborar, mas se não permitimos, então ele vem de qualquer maneira, contra nossa vontade, e estraga a festa. Perdemos o controle e somos atingidos pelo seu lado negativo. Mas porque isso? O que fizemos para nos confrontarmos com esta figura que nos critica, que nos culpa a cada minuto? As respostas estão dentro de nós, mas também naquilo rejeitamos fora. Devemos dialogar conosco e aceitar a dualidade, as oposições. Aceitando o fato de sermos seres falíveis, mesmo que busquemos o desenvolvimento. Só assim poderemos integrá-lo. Passamos a ser mais flexíveis e a termos mais paciência conosco e com os outros.
Para maior compreensão, lembramos que nossa consciência e nossa personalidade são apenas uma pequena fração do nosso ser inteiro. Quando unicamente nos identificamos com ela, nos tornamos frágeis e somos condenados a eternamente sermos assombrados pela própria sombra (que faz parte do inconsciente, e do que é rejeitado de nossa totalidade). Assim, a sombra como última alternativa perante nossa rejeição, entra sorrateiramente na nossa consciência transformando-se em culpa, ansiedade, medo e depressão. Loki personificou esta descrição entrando no banquete.
APRISIONAMENTO DE LOKI
2 versões
Continuando a compreensão do conto descrito, o aprisionamento de Loki contém duas versões muito interessantes. A 1ª : Ao insultar os deuses no banquete, Loki é capturado, transforma-se num salmão, então é preso e acorrentado pelos deuses, que o imobilizam com as tripas de seu filho Nari. Imobilizando-o junto com todas as potências do mal. Ele só será liberto no final do mundo onde liderará as potências da destruição.
Nessa versão vamos fixar-nos no seu novo aspecto, um peixe. Os peixes têm sangue frio, vivem de baixo d’água e são pouco visíveis. Em algumas mitologias representam, os portadores de uma nova forma de consciência, como Cristo que era simbolizado com o peixe e Matsyendranat (que trouxe os ensinamentos de Yoga de Shiva para o homem) que também “foi” peixe. Jung chamou o peixe de “lasca de consciência” ou consciência dos complexos. Ou seja, a tomada de consciência dos complexos. Na cultura nórdica o salmão representou um papel importante para alimentação do povo. Aquele que come a carne do salmão torna-se vidente e onisciente.
Na ciência sagrada o salmão e o javali eram figuras consideradas fonte de sabedoria. A forma do salmão também representa o último grau de metempsicose (doutrina pelo qual uma mesma alma pode animar sucessivamente corpos diversos: de homens, animais ou vegetais; a transmigração). No mundo Celta indicam personagens predestinados, marcados por uma missão e detentores de aspectos múltiplos da verdade e da ciência.
Percebo então que nasce uma nova consciência, nesta forma que Loki se transformou. O inconsciente popular coroou Loki como detentor da sabedoria de verdades preciosas para os homens. Porém ele está acorrentado e não pode cumprir seu papel.
Loki ao final nos mostra como ele pode ser útil para nós, é ele quem pode alimentar um lado nosso que está carente de sabedoria e de união. Mas para “comê-lo” ou recebermos seus benefícios, temos que soltá-lo de boa vontade, antes que ele se solte e nos ataque com as forças poderosas da nossa sombra (inconsciente). Quando finalmente ele se solta acontece a revolução pela força, onde os dois lados se aniquilam mutuamente. É o fim do mundo.
2ª versão: Depois de confessar o crime da morte de Baldr (o deus da luz) é que Loki foi capturado pelos deuses. Como punição amarraram-no a uma pedra, onde havia acima uma cobra lançando veneno sobre seu rosto, queimando-o e causando-lhe terrível agonia.
Para iniciarmos a compreensão deste episódio, comparamos a imagem de Loki a Prometeu. Assim como Loki descende dos gigantes, Prometeu descende dos Titãs e carrega, dentro de si, uma tendência à revolta. Os dois foram acorrentados sobre um rochedo. Prometeu era diariamente visitado por uma águia que vinha comer-lhe o fígado. Símbolos dos tormentos de uma culpa reprimida e não expiada. Loki, de outra forma, nos leva a olharmos para nossas culpas. Acorrentado, sofria o tormento de uma cobra que soltava veneno sobre seu rosto, causando-lhe imensa dor e queimação. A cobra simboliza o limite, a fronteira da consciência, portanto a fronteira do inconsciente. A cobra má simboliza uma rigidez que contém o fluir da vida. Porém ela tem dois aspectos, seu veneno e seu antídoto, suas qualidades temporais e atemporais. Enquanto Loki estiver preso, assim como Prometeu, nosso consciência está presa e pobre pois não acessa o inconsciente de maneira positiva.
Temos de nos livrar das forças más da rigidez, que não permitem seguirmos o fluir da vida. Causando desequilíbrios desde o plano psíquico até o físico. Enquanto não revertemos este quadro em nós nunca acessaremos a 2ª cobra, a cobra que trás a iluminação, sabedoria e restaura o fluxo de vida e de prazer verdadeiros. Assim como Heracles fez com Prometeu, soltou-o. Representa a revolução da consciência, sua transformação. Foi Heracles quem livrou Prometeu de sua tortura, quebrando as correntes e matando a águia. Temos que matar a 1ª serpente e soltar Loki para podermos acessar a 2ª cobra.
Como diz Mindell, “podemos comparar a 1ª cobra com o diálogo interno que perturba a atenção. Esta cobra que prende a visão interior da pessoa que medita, é a fantasia. Se a 1ª cobra for estudada e trabalhada, elaborando o complexo que ela simboliza, então chegamos à 2ª cobra, a uma espécie de sensação irracional, sem tempo e sem espaço, em que a pessoa se sente completamente em paz e revigorada.”
Em geral, temos medo de vivênciar os aspectos incorporados pelo arquétipo. Projetamos tudo isso no mundo externo, pois não temos a coragem de olhar para esse lado dentro de nós. Então acorrentamos nosso Loki interno, o desprezamos e fazemos com que ele junte forças e se volte contra nós. A natureza sempre busca a saúde, o equilíbrio e a união dos opostos, somos nós a não permitimos sua ação, desprezamos nossa sabedoria interna, e buscamos de maneira artificial atingirmos metas superficiais e menores. E ainda nos iludimos pensando que são nobres ou pelo menos importantes. Lembramos então que uma parte sem o todo não é completa, não funciona bem. O caminho é da integração com a natureza.
Na visão nórdica as forças do mal se soltaram no final do mundo. Loki não é solto por uma figura correlata a Hercules, simbolizado pelo trabalho consciente sobre Si-mesmo. Este fato mostra que se Loki não for solto de uma maneira, será de outra e então perdemos o controle sobre a revolução que será causada. Me faz lembrar de outra frase “Se não aprendermos por estímulos suaves, precisaremos de estímulos cada vez mais fortes para aprendermos”. Mas algum dia certamente aprenderemos. Espero que o quanto antes.

ARTETERAPIA

loki2.jpgA ARTETERAPIA é uma forma de entrar em contato símbolos internos. Vasculhar, reprocessar e desenvolver conteúdos latentes e complexos. Os trabalhos expressivos ajudam a entrarmos no inconsciente e assim poderemos fazer a ligação e a união dos opostos, onde partes desconhecidas ao ego podem emergir e serem integradas na nossa consciência. A mitologia é um excelente caminho utilizado pela Arteterapia, pois ela sinaliza as transformações (arquetípicas) que ocorreram ao longo do tempo. Trás em si soluções e percepções jamais pressentidas e conscientizadas antes.
Todas as figuras dos panteões são arquetípicas e vivem dentro de nós. Assim sendo, sempre que ouvimos algum conto, mito, ou lenda devemos prestar atenção à emoção que ele suscita. Qual complexo foi detonado? Devemos vasculhar e nos perguntarmos -- Onde este personagem vive dentro de mim? Que tipo de lição ele pode me ensinar? Será que estou dando a devida (nem de mais nem de menos) atenção a ele? Muita coisa pode ser feita, questionada e refletida, esta é a busca de auto-conhecer-se, de procurar sempre dentro de si mesmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo pudemos perceber ao longo deste texto, o mundo é dual e contém princípio e fim. Esta afirmação jamais deve ser esquecida. Tudo que for construído um dia deve ser destruído; por isso o bem e o mal são partes valorosas de nosso ser. Somente a possibilidade de reconstrução leva ao crescimento verdadeiro. Percebemos ainda, que cada símbolo, cada elemento, cada figura apresentada tem concepções duais, tem dupla força. A criação e a aniquilação. Em nosso dia-a-dia convivemos com essas forças: exterior e interior, feminino e masculino etc. A busca do equilíbrio, é aceitar as duas como sendo nossas, utilizá-las da melhor forma possível para o crescimento pessoal e consequentemente coletivo.
Somos mais conscientes quando estamos atentos a cada instante, para sabermos conciliar exigências externas com necessidades internas. Saberemos usar então a capacidade que Loki representa, sem com isso incorporar seu lado “negativo”. Estamos sempre correndo riscos, e as perdas são partes integrantes da conquistas. Não sabemos tudo, talvez perto da sabedoria maior não saibamos nada, porém se continuamente buscamos aprender com nossos sentidos, nosso intelecto, nossas sensações e mesmo nossa intuição trilhamos o caminho do verdadeiro sabio. Caminho, que aliás, jamais termina.
“Como diz Osho: “Uma estrada termina, outra se abre; uma porta se fecha, outra se abre. Um pico mais alto sempre está lá. Você chega a um pico e já ia descansar, pensando que havia conquistado tudo, e subitamente, um pico mais alto aparece adiante. De pico em pico nunca se chega ao fim...Por isso este caminho é apenas para aqueles que são muito corajosos -- tão corajosos que não se importam com a meta, mas ficam felizes com a própria jornada, apenas por viver o momento e crescer dentro dele...” Vivamos então nossa liberdade e a capacidade de pensar e escolher; vivamos nossa capacidade de correr riscos, muita coisa boa pode ser encontrada neste caminho de eterno crescimento.
Anita Rink é Arteterapeuta e psicóloga