quinta-feira, 7 de julho de 2011

MORTE DE PILATOS, O QUE CONDENOU JESUS

MORTE DE PILATOS, O QUE CONDENOU JESUS

Tibério César, imperador dos romanos, encontrando-se acometido de uma grave doença e tendo-se inteirado de que em Jerusalém havia um médico chamado Jesus, o qual curava todas as doenças somente com a sua palavra, ignorando que os judeus e Pilatos Lhe haviam dado a morte, expediu a seguinte ordem a Volusiano, alguém muito chegado a ele:
"Vai o mais cedo possível até o outro lado do mar e diz a Pilatos, meu servidor e amigo, que me envie este médico para que me restitua o estado de saúde no qual me encontrava antes".
Volusiano, ouvindo a ordem do imperador, partiu no mesmo instante e chegou até Pilatos, de acordo com a ordem recebida. E contou ao mencionado Pilatos, o que havia sido encarregado por Tibério César, dizendo: "Tibério César, imperador dos romanos, teu senhor, ao tomar conhecimento de que se encontra nesta cidade um médico capaz de curar todas as doenças somente com a sua palavra, roga-te encarecidamente que o envies para que o cure de seu mal. Quando Pilatos ouviu isto, ficou muito atemorizado, descobrindo que O havia feito matar por inveja. Então, assim respondeu Pilatos ao citado mensageiro:
"Aquele homem era um malfeitor e levava todo o povo atrás de si. Motivo pelo qual, depois de promover um conselho entre os sábios da cidade, mandei que fosse crucificado".
Quando o mensageiro em questão voltava para sua casa, encontrou-se com uma certa mulher chamada Verônica, que havia conhecido Jesus, e disse-lhe: "Mulher, havia um certo médico residente nesta cidade, que somente com a sua palavra curava os doentes, por que os judeus o mataram?" Mas ela começou a chorar, dizendo: "Ai de mim! O senhor, era o meu Deus e me Senhor, a quem Pilatos por inveja entregou, condenou e mandou crucificar".
Então ele, embargado por uma dor profunda, disse: "Sinto-o enormemente, porque não vou poder cumprir a missão que meu senhor me confiou". Verônica disse-lhe: "Quando meu Senhor ia pregar, eu me sentia mal, já que ficava privada da sua presença; então que me fizessem um retrato para que, enquanto eu não pudesse desfrutar sua companhia, pudesse ao menos consolar-me com a figura da sua imagem. E, estando eu a caminho para levar o lenço ao pintor para que O desenhasse, meu Senhor veio ao meu encontro e perguntou-me onde ia. Quando manifestei-lhe meu propósito, pediu-me o lenço e mo devolveu com a imagem de seu venerável rosto. Portanto, se teu senhor olhar sua imagem com devoção, ver-se-á imediatamente agraciado com o benefício da cura". Então ele disse-lhe:
"Um tal retrato pode ser adquirido com ouro ou com prata?" Ela respondeu: "Não, tão somente com um piedoso afeto de devoção. Irei contigo e levarei a imagem para que César a veja; depois voltarei".
Então, veio Volusiano a Roma em companhia de Verônica e disse ao imperador Tibério:
"Aquele Jesus, a quem tu já ha algum tempo vens desejando ver, foi entregue por Pilatos e pelos judeus a uma morte injusta e por inveja foi pregado no patíbulo da cruz. Porém veio em minha companhia certa senhora que traz consigo um retrato do próprio Jesus; se tu o olhares com devoção, obterás de imediato o benefício da tua cura". Então César fez com que o caminho fosse atapetado com panos de seda e ordenou que a imagem lhe fosse apresentada. E, no instante em que a olhou, recobrou sua antiga saúde.
Em consequência, Pôncio Pilatos foi detido por ordem de César e trazido a Roma.
Quando o imperador tomou conhecimento da sua chegada, sentiu-se dominado por uma enorme fúria contra ele e ordenou que o levassem à sua presença. Deve-se esclarecer que Pilatos havia trazido consigo a túnica de Jesus, feita de uma só peça, dádiva que levou à presença do imperador. Assim que o viu, o imperador sentiu-se destituído de toda a sua ira, levantou-se imediatamente diante dele e não ousou em dizer uma única palavra dura. E, assim, ele, que na sua ausência parecia tão feroz e terrível, agora, na sua presença, estava até certo ponto manso. Mas, assim que o despediu, começou a exaltar-se terrivelmente contra ele, chamando-se a si mesmo, aos gritos, de miserável por não haver manifestado a indignação de seu peito. E no mesmo instante fez com que o chamassem novamente, jurando e declarando que era filho da morte e que não era lícito que ele vivesse sobre a terra. Porém, quando o viu de novo, saudou-o imediatamente e sentiu-se destituído de novo de toda a ferocidade de sua alma.
Todos, até ele próprio, estavam admirados com o fato de ele encolerizar-se na ausência de Pilatos, enquanto que na sua presença não era capaz de dizer sequer uma palavra áspera.
Finalmente, por inspiração divina, ou talvez por conselho de algum cristão, mandou que o despojassem daquela túnica. No mesmo instante recobrou sua antiga feracidade de alma contra ele. Grandemente admirado com esse fato, o imperador ficou sabendo que aquela túnica havia pertencido a Jesus. Então ordenou que atirassem Pilatos na cadeia, enquanto o conselho de sábios deliberava o que deveria ser feito com ele. Poucos dias depois ditou-se a sentença contra Pilatos para que fosse levado a uma morte extremamente infamante.
Quando isto chegou aos ouvidos de Pilatos, ele próprio suicidou-se com uma faca, e com esta morte pôs fim à sua vida.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, César disse: "Na verdade morreu ignominiosamente, já que sua própria mão não o perdoou". Então amarraram-no em uma enorme pedra e o atiraram nas profundezas do Tibre. Aconteceu, porém, que alguns espíritos imundos e malignos, aproveitando-se daquele corpo nas suas próprias condições, moviam-se naquelas águas e atraíram para elas raios e tempestades, trovões e granizo, até o ponto de todos assustarem-se e sentirem um grande temor. Por causa disto os romanos tiraram-no do rio Tibre e levaram-no ao som de galhofas até Viena e o arremessaram nas profundezas do Ródano, já que Viena significa "Caminho para a Geena" (inferno), por ser naquele tempo um lugar maldito. Mas também ali os espíritos maus apareceram, fazendo as mesmas coisas, então a população, não suportando uma invasão tão grande de demónios, atirou para longe aquele maldito fardo e diligenciou para que recebesse sepultura no território de Lausane. Os habitantes desta região, sentindo-o excessivamente conturbados pelas invasões, atiraram-no por sua vez longe deles, num poço rodeado de montanhas, lugar que, se dermos crédito ao que algumas pessoas contam, dizem que ainda é agitado por algumas maquinações diabólicas.

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