sexta-feira, 17 de junho de 2011

XINTOÍSMO


XINTOÍSMO


A Religião Japonesa

Universidade de Brasília, Junho/Julho de 1999, Departamento de Letras - Tradução, Curso de Licenciatura em Língua Japonesa, Disciplina: Cultura Japonesa 1, Professora: Donatella Natili

Certa vez estive a discutir com alguns colegas, sobre alguma característica que pudesse ser considerada genuína e exclusivamente humana, algo que pudesse caracterizar uma indiscutível natureza do Homo sapiens.
Obviamente funções fisiológicas, sociais e emocionais primárias foram descartadas uma vez que a maioria dos animais superiores também as possuem. Tão pouco é válido alegar alguma atitude que dependa da tecnologia.
Muitas questões mais profundas sobre o sentimento, a linguística ou o pensamento caem num campo de discussão filosófica sem muita possibilidade de conclusão, a não ser algumas exceções como a linguagem transmitida tendo o indivíduo como vetor.
Não é uma questão fácil de se resolver, tanto que dificilmente chegar-se-á a qualquer conclusão sem se apelar para recursos especulativos. Mas evidentemente esses mesmos recursos de pensamento nos permitem pelo menos tirar algumas conclusões e opiniões razoavelmente apropriadas.
Em minha opinião uma característica exclusivamente humana é a mística, o comportamento de sentir e acreditar em algo que não é perceptível aos sentidos, dedutível racionalmente ou mesmo claro emocionalmente. Jamais em toda a história da Antropologia foi detectado um grupo humano que, independente de seu estado técnico ou social, não acredite em algum tipo de mito.
Mesmo com muitas divergências, a intuição de que existe algo além do que vemos à nossa volta é um elemento poderoso da psique humana, que influencia, constrói ou mesmo governa completamente nossas vidas.
Não há culturas atéicas embora indivíduos isolados o possam ser ocasionalmente. Na realidade, chego até a ousar dizer que não existe alguém verdadeiramente ateu, se consideramos a raiz etimológica DEUS/THEOS pelo seu significado original grego, que significa "algo invisível".
Todos temos nossas próprias convicções mas sempre acreditamos em algo "invisível", além de nossa percepção sensorial. Mesmo o mais cético dos cientistas acredita em algum princípio fundamental da natureza que não pode ser completamente provado ou comprovado. Ou alguém seria presunçoso o suficiente para afirmar que domina com absoluta clareza todos os mistérios do universo?
A mística é uma natureza humana e uma constante em todas as culturas, dela se desmembra a mitologia, as crenças, as religiões e seitas, e por mais diversa das demais que seja uma sociedade, sua concepção mística possui elementos similares a qualquer outra, na verdade há unanimidades indiscutíveis.
Um princípio ativo criador ou uma entidade que é responsável pelo universo, leis ou fundamentos que regem tudo a nossa volta, de onde viemos antes de nascer e para onde iremos depois de morrer, são apenas algumas das constantes identificáveis entre as inúmeras culturas.
Para confirmar a regra da exceção, poderia citar entre vários outros exemplos, que um ou outro destes pode em determinada concepção mística-filosófica estar ausente em maior ou menor grau, mas no geral ocorre uma tendência que atribui a todas as crenças humanas um certa conformidade.
Parece também haver um certa hierarquia organizacional que determina a classificação de determinada concepção místico-filosófica nas categorias: Mitologia, crença, seita ou religião.
Uma mitologia é uma coleção de mitos interligados. Mito é popularmente considerado algo fantasioso, para alguns são histórias improváveis, lendas, e deploravelmente há até outros que o reduzem pura e simplesmente a bobagens "falsas", lembrando que é possível encontrar mesmo no meio acadêmico indivíduos que não sabem a diferença entre ficção e mentira.
Geralmente um panteão, uma mitologia sobrevive principalmente através de estórias podendo se transformar posteriormente em uma crença com caráter de seita ou religião.
Uma religião possui características classificantes tais como um messias, código de leis explícitas, livro sagrado, igrejas, ou intervenção social direta, sendo geralmente muito abrangente em seu meio. Se tal crença têm menor campo de atuação relegando-se a um segundo plano atrás de um religião dominante, ou falta-lhe qualquer dessas características, ela muitas vezes é taxada de seita, que por hábito tende a ser um termo pejorativo.
Das grandes crenças mundiais, apenas principalmente as monoteístas sempre se assumiram oficial e orgulhosamente como religiões, Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. É interessante como a maioria das outras não reclama ostatus de religião e se incomoda com o termo seita, mesmo que apresentem todas as características de uma.
As crenças orientais têm essa particularidade de não se intitularem e as vezes até evitarem sua identificação como uma religião.
Por quê "místico-filosófica"?
Filosofia é antes de mais nada a capacidade humana de pensar, avaliar, refletir, contemplar e procurar repostas de forma organizada. Etimologicamente é o "Amor(philo) à Sabedoria(sofia)
A mística é ao meu ver, um tipo de "resposta", intuição ou resultado que nos chega sem ser atingida pelo raciocínio, é quase sempre geralmente uma indução enquanto a filosofia tende a ser mais dedutiva.
Ambas se complementam em qualquer concepção teológica, pois se dá no sentido de princípios explicando fenômenos que analisados levam a princípios que resultam em fenômenos. É um ciclo.
A filosofia não pode ter limites para a busca de respostas mas se chega a uma barreira intransponível racionalmente atinge-se então uma característica mística, metafísica. A mística surge para tornar o incompreensível pelo menos aceitável.

Nesta Monografia, faremos um breve ensaio do XINTOÍSMO, uma religião que permite a reflexão de todos os apectos evolutivos de uma concepção místico-filosófica. A enfase está na crença mística em si, suas características principais e suas semelhanças e diferenças com outras crenças do ocidente e oriente.

O XINTOÍSMO

A única religião que pode ser considerada genuínamente japonesa, com origens que se confundem com a do próprio povo, há pelo menos dois milênios predomina na mística do arquipélago do país do sol nascente.
Demorou a receber essa denominação adaptada do chinês xin-tao, "via dos deuses", por volta do século XI, embora muitos japoneses utilizassem o termo nativo kami-no-michi, com o mesmo significado.
Diferente do Budismo, que têm origem indiana e influência chinesa, o Xintoísmo é dominante apenas em seu país de origem, embora sua prática não implique no abandono total ou repúdio a outras formas de crença. Não se trata de uma concepção exclusivista, convivendo pacificamente e até complementarmente com outras práticas religiosas.
Na verdade por muitos estudiosos nem chega a ser considerada uma religião devido a ausência de elementos como códigos de leis explícitas, filosofia textualmente definida, profetas ou um livro sagrado mais elaborado.
Entretanto a ostensividade da penetração do comportamento xintoísta na vida de seus praticantes, perceptível não só em seus diversos rituais mas em todos os aspectos da vida, bem como sua ampla abrangência em seu país de origem, garante a esta concepção místico-filosófica o estatuto de uma das grandes religiões do mundo.
Baseia-se numa mitologia panteísta com inúmeras divindades que atribuem valor sagrado a todos os elementos da natureza. Na verdade tudo no universo é divino para essa concepção, sendo interligado e interdependente de forma que não só os seres vivos, mas o vento e a água, as pedras, a montanha, e todos os níveis invisíveis da natureza, coexistem em harmonia tendo se originado da mesma fonte.
Nesse ponto se assemelha ao Taoísmo, e também quando diz que tudo é regido por forças de pureza hare, impureza ke, e a fusão de ambos kegare. Isso determina uma das mais importantes características do rituais xintoístas, a purificação de corpo e alma.
Outra característica forte é a harmonia com a natureza, o praticante busca se familiarizar e se integrar com a natureza num comportamento simbiótico, de onde ele tira seu sustento mas também deve retribuir. Dessa forma a sobrevivência depende do entendimento do ser humano com toda a estrutura vital a sua volta, considerando-a uma parceira e uma guia.
É oposta a muitas concepções ocidentais no qual o homem é adversário da natureza, lutando para dominá-la, subjugá-la. Na concepção Xintoísta, e oriental em geral, mesmo milênios antes de qualquer concepção ecológica, já se considera que o ser humano não pode viver em confronto com a natureza, o que é bastante interessante levando em consideração que as condições geográficas e climáticas do arquipélago japonês são sem dúvida uma das mais implacáveis do mundo, com grande número de vulcões ativos, terremotos intensos e furacões devastadores.
O estudo do Xintoísmo é vital para o entendimento da cultura japonesa, sua visão de mundo determina boa parte do comportamento nipônico, como sua capacidade de adaptação e absorção de novas idéias ao mesmo tempo que preserva as antigas, sua boa recepção a novas culturas e idéias, seu comportamento que valoriza a higiene e a saúde e seu sentimento de nacionalismo.
Mesmo se fundindo com outras religiões e se subdividindo em vários desdobramentos, o Xintoísmo deixa um legado que com certeza contribui para o receptividade dos japoneses, de forma que o exclusivismo principalmente religioso é pouco praticado no Japão.
Alías, é um lenda xintoísta que deu origem ao nome desta nação, que outrora fora chamada Yamato, de o país do sol nascente.

AS BASES MITOLÓGICAS

Como toda mitologia, o Xintoísmo também explica o surgimento do universo e assim como a grande maioria, considera que tudo teve origem de uma amorfia desordenada denominada CAOS.
Deste Caos separou-se o céu, duas forças fundamentais antagônicas, tais como o Ying e o Yang do Taoísmo, e 5 grandes deuses
As 5 grandes divindades saídas do CAOS são:
AMENOMINAKANUSHI
( Senhor do Nobre Centro Celestial)
TAKAMIMUSUBI
( Grande Gerador do Deus Prodigioso)
KAMIMUSUBI
( Divino Gerador do Deus Prodigioso)
UMASHIASHIKABIHIKOJI
( O Mais Velho Soberano do Cálamo)
AMENOTOKATACHI
(O Eternamente Deitado no Céu)
Deste último decorrem as 7 gerações divinas, dois seres completos e mais 5 casais:
KUMINOTOKATACHI
( Eternamente Deitado sobre a Terra)
TOYOKUMONU
( Senhor da Integração Exuberante)

UHIJINI
(Senhor da Lama da Terra)
&
SUHIJINI
( Senhora da Lama da Terra)
TSUNUGUHI
(Embrião que Integra)
&
IKUGUHI
( A que Integra a Vida)
OHOTONOJI
( O Mais Velho da Grande Morada)
&
OHOTONOBE
( A mais Velha da Grande Morada)
OMODARU
( Aspecto Perfeito)
&
AYAKASHIKONE
( Majestosa)
IZANAGI
( Varão que atrai)
&
IZANAMI
( Mulher que Atrai)

IZANAGI & IZANAMI são os seres criadores do arquipélago do Japão, no caso o mundo, e das inúmeras entidades secundárias, muitas das quais associadas a cada ilha.
Com a orientação dos deuses mais antigos e em poder da Lança Celeste modelam a massa disforme que era o mundo e dão origem a 10 filhos que representam elementos da natureza. São esses:

Divindade da ATMOSFERA
Divindade do VENTO
Divindade das ÁGUAS
Divindade dos PÂNTANOS
Divindade do OUTONO
Divindade das ÁRVORES
Divindade das MONTANHAS
Divindade do Barco de Cânfora
Deusa do ALIMENTO
Deus do FOGO

Após o último parto que levou IZANAMI a morte, IZANAGI revoltado decapta o Deus do FOGO, e do sangue jorrado surgem mais 16 deuses. Depois promove a descida aos infernos ou mundo dos mortos na tentativa de recuperar sua esposa. Com a qual entra em contato não visual.
Mas ela já tendo se integrado e comido da alimentação dos infernos a princípio não pode mais retornar, pedindo que IZANAGI a aguarde enquanto busca um meio entre as divindades regentes do inferno para que lhe seja permitida a volta. Ela o instruí a não se aproximar até segunda ordem, mas devido a demora IZANAGI ignora o pedido. Ao se deparar com o corpo putrefato de sua esposa é tomado de horror, e ela, revoltada com sua impaciência e sua reação, o persegue junto com espíritos infernais.
Ao retornar ao mundo dos vivos ele se banha em um rio para se lavar das impurezas dos infernos, realizando a Purificação, de seus trajes abandonados e das impurezas saídas de seu corpo nascem muitas divindades muitas das quais maléficas.
Depois, de seu olho esquerdo nasce a deusa solar AMATERASU e o do direito o deus lunar TSUKI, do nariz surge SUSANOWO que se torna imperador do oceano.
E a participação ativa de IZANAGI e IZANAMI terminam aqui, assim como a de qualquer outro dos deuses mais antigos, deixando entretando uma descendência de pelo menos 800 divindades.
AMATERASU, a deusa solar, é a grande mãe do povo japonês, sendo considerada a ancestral primeira de toda a descendência imperial japonesa. Tal crença será base de um importante comportamento nipônico que abrange o nacionalismo e a identidade cultural

Essa é uma das mais interessantes peculiaridades desta mitologia, diferente da grega, egípcia, Asteca, etc. O sol, é uma entidade feminina. Isso demonstra que algumas religiões orientais apresentam um ponto de vista diverso daquele que atribuí sempre ao Sol uma característica masculina, o que fecunda lançando seu semêm sobre a Terra, que possui característica feminina sendo o óvulo onde germina a vida. Tal concepção encontra correlação até mesmo científica, uma vez que toda a vida que nasce na Terra provêm e depende das emissões de energia do sol.
No entanto houve épocas em que não se conhecia o papel masculino na reprodução, nessa antiguidade eram mais comuns as deusas solares. Mas um fato ainda mais notável é que geralmente o Sol seja associado a divindades masculinas em locais mais quentes, Egito, Índia e América Central por exemplo, já em locais mais frios a associação com divindades feminas é maior. Provavelmente onde o Sol é mais agressivo, sobressái suas características masculinas, e as femininas predominam onde o Sol é mais associado a idéia de conforto, calor agradavel. Há exemplos na Escandinávia, Alemanha e América do Norte.

AMATERASU reinava no céu, e na Terra através de seus descendentes, no caso os imperadores. SUSANOWO, o masculino impetuoso, ambiciona mais que o reino do oceano e perturba a deusa solar em sua morada celestial. Entre outras coisas destrói os arrozais sagrados, bloqueia fontes de irrigação e suja o palácio da deusa. Indulgente, ela o perdoa até que sua ofensa se torna inaceitável, ele jogara um cavalo morto entra a deusa e suas serviçais tecelãs ferindo mortalmente muitas delas.
Amargurada ela se esconde numa caverna sagrada e toda a terra mergulha na mais profunda escuridão e catastrófes. Em desespero os 800 deuses precisam tomar uma providência, elegem o sábio OMOIKANE-NO-KAMI para convencer a deusa a voltar, uma vez que não se pode trazê-la a força.
Este então ordena a construção de um espelho místico e um colar de pérolas. Em frente a caverna faz um fogueira queimando o omoplata de um gamo, o que provoca estalos e fagulhas que formam desenhos, uma das mais antigas formas de advinhação japonesa praticada por feiticeiros. Traz um pinheiro do monte Kagu e deposita o espelho e o colar na parte de cima, na parte de baixo põe oferendas.
A deusa AME-NO-UZUME dança em frente a caverna com os seios a mostra, todos os deuses se reunem e passam a rir e a gritar como numa festividade. O objetivo era tentar dar a entender a AMATERASU que tudo estava bem e todos estavam felizes, como se não precisassem mais dela e tivessem uma nova deusa solar.
Intrigada ela sai da caverna para ver o que está acontecendo, os deuses postam o espelho em frente a seu rosto e ela pensa estar diante da nova deusa do sol, cada vez mais curiosoa ela sa afasta da caverna, os deuses então fecham a entrada com um corda de palha trançada, que até hoje significa a proibição de se entrar em locais sagrados.
Dessa forma o sol volta novamente a brilhar no mundo, SUSANOWO é "multado", tendo que pagar mil pranchas de oferendas e é banido para a terra na região do IZUMO, o "país tenebroso" que era um tipo de inferno.
Algumas versões da lenda dizem que ele se tornou um deus do mal em sofrimento, outras dizem que ele se arrependeu e passou a praticar o bem. Tais divergências são apenas um dos resultados de uma mitologia que sobreviveu por mais de um milênio sem nenhum registro escrito.

Como em quase todas as mitologias, ocorre uma "situação" de desavença entre as divindades. Na religiões bíblicas houve a guerra no céu entre o revoltoso LÚCIFER e o Pai Celestial. Na mitologia grega a guerra do Titãs quando ZEUS destronou CHRONOS, na egípicia houve a luta entre HÓRUS e SETH e assim prosseguem relatos semelhantes no MAHABARATA, nas lendas nórdicas, e em muitas religiões indígenas inclusive amazônicas.
O Xintoísmo entretanto tende a ser mais peculiar, pois nesse caso apesar dos episódios de IZANAGI e o Deus do FOGO, e de SUSANOWO e AMATERASU, não ocorre entretanto um guerra generalizada, assim como o Xintoísmo também não prevê detalhadamente um Apocalipse, Armageddon, Ragnarok, Mahapralaya ou Crepúsculo dos Deuses.
A punições aplicadas ao deus do oceano, são uma garantia dos deuses de que novas catástrofes cósmicas não mais se abaterão sobre os 3 mundos, o Céu a Terra e os Subterrâneos.
Dentre as inúmeras interpretações possíveis dos mitos, não só xintoístas mas de qualquer outra crença, torna-se muito interessante destacar pelo menos duas.
O ser humano possui em algum "momento" de sua psique primária a noção de que os deuses não possuem uma vida muito diferente da dos mortais. Dessa forma tentam explicar o universo, a gênese e a natureza em todos os níveis visíveis e invisíveis atribuindo estórias de caráter humano com personagens de comportamente humano.
De certa forma, o homem cria os deuses a sua imagem e semelhança.
Tal concepção só tende a desaparecer nas crenças mais "evoluídas" intelectualmente, geralmente absorvendo crenças antigas, aplicando-lhe interpretações mais racionais e contextualizando-as num plano maior a exemplo do que o Espiritismo Kardecista faz com o Cristianismo ou o Budismo faz com o próprio Xintoísmo.
Uma vez que todos os fatos históricos marcantes estão associados a perídodos perturbados mesmo nas mais primitivas sociedades, seria natural que um evento de importância tão absoluta tenha se caracterizado por movimentos agitados.
A agitação máxima desse tipo de visão, a razão primária de todas as coisas é o CAOS. Em quase todas as religiões ele surge como o princípio ativo criador. Intrigante é o fato de que muitas vezes o CAOS se confunde com o ÉTER, vazio. Em algumas crenças são coisas distintas e em outras são complementares e as vezes até a mesma entidade numa relação paradoxal de Ser e Não-Ser.
Muitos teólogos modernos gostam de ver a crença no princípio caótico do universo associado a teoria do BIG-BANG. Nesse caso antes da grande explosão teríamos o vazio, o ÉTER, e em seguida o CAOS, que é exatamente o que teria ocorrido de acordo com a física contemporânea.
Da caótica geração violenta de matéria que deu origem ao universo viria toda a criação.
No Xintô já havia a separação do céu em relação a terra, mas está estava na forma de CAOS, uma massa amorfa. IZANAGI e IZANAMI que através da Lança Celeste lograram a organização, "misturando" porções dessa massa que se tornaram as ilhas e deixando o restante na forma do mar.
A maioria das mitologias segue esse padrão, baseando-se na sua restrição de visão de universo, que os faz considerar apenas sua porção de mundo. A noção da esfericidade da Terra está além de sua visão de mundo inicial, fazendo-as inferir então sobre uma extensa horizontalidade não relativa, que separa Céu, Terra e se for o caso Subterrâneos.
A maioria das mitologias atualmente, após todas as descobertas científicas, reconhecem suas cosmogêneses principalmente numa forma simbólica, ou valorizando-as uma visão de época, não sofrendo então um choque cultural entre fé e ciência.
Outras tentam desesperadamente reinterpretá-las, buscando novas significâncias para termos que as tornariam atuais, pretendendo então conformá-las com os conhecimentos modernos ou em casos mais extremos até declará-los superiores.
O Xintoísmo opta pela primeira opção, nunca se defrontando então com o racionalismo ou cientificismo, reconhece tudo em sua visão de interdepêndencia usando-a como uma noção mais abrangente e se eximindo então de maiores contradições.


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