sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Código da Bíblia (ou do Torah)


O Código da Bíblia (ou do Torah)

O Código da Bíblia (ou do Torah) é um código que se alega ter sido intencionalmente embutido na Bíblia. É revelado através da busca de seqüências de letras eqüidistantes (SLE). Por exemplo, comece com qualquer letra ("N") e leia a cada enésima letra ("D") a partir daí no livro, desconsiderando os espaços. Se um livro inteiro como o Gênesisfor pesquisado o resultado é uma longa cadeia de letras. Usando diferentes valores para "N" e "D" é possível gerar várias cadeias de letras. Imagine enrolar a cadeia de letras ao redor de um cilindro, de forma que todas elas possam ser exibidas. Achate o cilindro para revelar várias linhas com colunas de comprimento igual, talvez com exceção da última, que pode ser mais curta que as demais. Agora, procure por nomes significativos próximos a datas. Procure na horizontal, vertical diagonal, de qualquer forma. Um grupo de matemáticos israelenses fez exatamente isso e afirmou que, quando procuraram por nomes bem próximos a datas de nascimentos e mortes (conforme publicado na Enciclopédia dos Grandes Homens de Israel), encontraram várias coincidências. Doron Witztum, Eliyahu Rips e Yoav Rosenberg publicaram suas descobertas na revista Science(1994, Vol. 9, No. 3, 429-438) Statistical sob o título de "Seqüências de Letras eqüidistantes no Livro de Gênesis." O editor da revista comentou:
Quando os autores usaram um teste de aleatorização para verificar o quão raramente os padrões que encontraram poderiam surgir por puro acaso, obtiveram um resultado altamente significativo, com a probabilidade p=0,000016. Nossa comissão julgadora ficou perplexa: suas crenças prévias os faziam achar que o Livro de Gênesis não poderia conter referências significativas a indivíduos dos tempos modernos. Mesmo assim, quando os autores realizaram análises e verificacões adicionais, os efeitos persistiram.
Isto é, as probabilidades de se obter os resultados que eles conseguiram eram de 16 em um milhão, ou uma em 62.500. Os autores declaram: "A análise de aleatorização demonstra que o efeito é significativo no nível de 0,00002 [e] a proximidade das SLEs com significados associados no Livro de Gênesis não se deve ao acaso." Harold Gans, ex-criptologista do Departamento de Defesa dos EUA, duplicou o trabalho da equipe israelense e concordou com sua conclusão. Witztum mais tarde afirmou que, conforme uma das medidas, a probabilidade de se obter esses resultados por sorte é de uma em 4 milhões. No entanto, aparentemente mudou de idéia e atualmente afirma que a probabilidade é p=0,00000019 (uma em 5,3 milhões). Jason Browning, cientista da criação, afirma que os cincoprimeiros livros da Bíblia contêm padrões ocultos de palavras que "se demonstraram ser matematicamente impossíveis de ocorrer por acaso." Não cita quem fez os cálculos para ele.
Como prova adicional do significado estatístico de seus resultados, a equipe israelense analisou a versão hebraica do Livro de Isaías e os primeiros 78.064 caracteres de uma tradução hebraica de Guerra e Paz de Tolstoi. Encontraram vários nomes bem próximos a datas de nascimentos e mortes, mas os resultados não eram estatisticamente significativos. (O Livro de Gênesis usado no estudo, a versão Koren, tinha 78.064 caracteres.)
O que quer dizer tudo isso? Para alguns isso significa que os padrões em Gênesis são intencionais e que Deus é o autor supremo do código. Se for assim, será que o Livro de Isaías, e qualquer outro livro da Bíblia que não passar no teste das SLE, deve ser descartado? Será que devemos concluir que essas estatísticas confirmam a afirmação de que os judeus são o povo escolhido de Deus e que mais nenhum nome deveria ser acrescentado à lista dos Grandes Homens de Israel, exceto se passar no teste das SLE? A não ser que as outras religiões possam duplicar resultados estatisticamente improváveis como esses, o sobrenaturalista entendido em matemática pode muito bem considerá-las imposturas. Será que devemos traduzir todos os livros sagrados de todas as religiões do mundo para o hebraico e ver quantos grandes homens de Israel estão codificados neles? Muitos de nós estão confusos sobre o que fazer desses números espantosos.
Um computador pode mesmo ler a mente de Deus? Aparentemente sim, já que segundo essa teoria Deus teria ditado em sua linguagem favorita, o hebraico, um conjunto de palavras que são mais ou menos inteligíveis se interpretadas ao pé da letra, contendo histórias de criação, dilúvios, fratricídio, guerras, milagres, etc., com várias mensagens morais. Mas esse Deus hebreu escolheu as palavras cuidadosamente, codificando a Bíblia com profecias e mensagens sem absolutamente nenhum valor religioso.
Muitos, no entanto, não estão totalmente perdidos. Alguns "cientistas da criação" cristãos estão afirmando que o Código da Bíblia ofereceprova científica da existência de Deus. Se eles estiverem corretos, deveriam se converter ao judaísmo. Como já é judeu, Doran Witztum não pode fazê-lo, mas levou o trabalho feito em Gênesis um pouco além do que fizeram seus colegas. Witztum foi à televisão israelense e afirmou que os nomes dos sub-campos num mapa de Auschwitz apareciam de forma espantosamente próxima à frase "em Auschwitz". As probabilidades de que isso ocorresse, segundo ele, são de "uma em um milhão." Alguns de seus alunos fizeram os cálculos e afirmaram que seu mentor errou por "um fator de 289.149." A matemática de Witztum pode não ser tão boa quanto suas intenções, mas é difícil enxergar que intenções poderiam ser essas. Será que Deus estaria de uma forma estranha revelando que os sub-campos de Auschwitz ficam em Auschwitz?
Michael Drosnin e admiradores de seu livro popular, O Código da Bíblia, estão afirmando que a decodificação do livro leva à descoberta de profecias e verdades profundas de natureza secular, nem todas relacionadas aos judeus. Drosnin alega que a Bíblia é o único texto em que frases codificadas como essas são encontradas num padrão estatisticamente significativo, e que as chances de que isso seja um fenômeno aleatório são poucas. Usando o método das SLE, Drosnin afirma que o assassinato de Yitzhak Rabin estava predito na Bíblia. Também afirma que os assassinatos de Anwar Sadat e dos irmãos Kennedy estão codificados em SLE bíblico. Pelo menos alguém descobriu um propósito realmente útil para os computadores: fazer análises de SLE de textos bíblicos em busca de mensagens ocultas de natureza secular. Quebra-cabeças aprecia o Senhor!
Nem todos concordam com a hipótese de Drosnin, inclusive Harold Gans, o criptologista aposentado do Departamento de Defesa que corroborou os trabalhos de Witztum, Rips e Rosenberg. Gans publicou uma declaração a respeito de O Código da Bíblia e outros livros similares. Em parte da declaração se lê
O livro declara que os códigos no Torah podem ser usados para prever eventos futuros. Isso é absolutamente infundado. Não há nenhuma base científica ou matemática para uma declaração como essa, e o raciocínio usado para se chegar a tal conclusão é logicamente falho. Embora seja verdadeiro que se demonstrou que alguns eventos históricos estão codificados no Livro de Gênesis em determinadas configurações, é absolutamente uma inverdade que toda configuração similar de palavras "codificadas" necessariamente represente um evento histórico em potencial. Na verdade, o que ocorre é exatamente o oposto: a maioria dessas configurações é bem aleatória e de ocorrência esperável em qualquer texto de tamanho suficiente. O Sr. Drosnin declara que sua "predição" do assassinato do primeiro ministro Rabin é "prova" de que o "Código da Bíblia" pode ser usado para se prever o futuro. Um sucesso isolado, não importa o quão espetacular seja, ou mesmo várias predições "bem sucedidas" desse tipo, não provam absolutamente nada a não ser que sejam formuladas e avaliadas sob condições cuidadosamente controladas. Qualquer cientista de respeito sabe queprovas "testemunhais" nunca provam nada.
O Dr. Eliyahu Rips, um dos autores do estudo que iniciou a febre do Código da Bíblia, também fez uma declaração pública a respeito doCódigo da Bíblia de Drosnin.
Não apóio os trabalhos do Sr. Drosnin, nem as conclusões a que ele chega.... Todas as tentativas de se extrair mensagens dos códigos do Torah, ou de se fazer predições baseadas neles são fúteis e não têm qualquer valor. Essa não é apenas minha opinião pessoal, mas a de todo cientista que já esteve envolvido em pesquisas sérias dos Códigos.
O professor Menachem Cohen, celebrado estudioso da Bíblia da Universidade Bar-Ilan, criticou Witztum et al. em dois pontos: (1) há várias outras versões em hebraico do Gênesis para as quais as SLE não produzem resultados estatisticamente significativos; e (2) as denominações dadas aos Grandes Homens de Israel foram inconsistentes e arbitrárias. O professor tem bons argumentos mas talvez isso apenas prove que a versão Koren seja a correta e que as denominações escolhidas sejam as mais adequadas para aqueles grandes homens de Israel.
Outros críticos, como Brendan McKay, fizeram suas próprias análises de Guerra e Paz, com resultados consideravelmente diferentes dos relatados por Witztum et al. Muitos dos críticos, no entanto, pouco fizeram além de usar SLEs para encontrar nomes, datas, etc., em diversos livros, feitos que mesmo o estatístico mais pobre sabe serem corriqueiros. Porém, Drosnin parece ter pedido por isso quando disse "Quando os meus críticos encontrarem uma mensagem sobre o assassinato de um primeiro ministro codificado em Moby Dick, eu acreditarei neles." McKay prontamente apresentou uma análise SLE deMoby Dick predizendo não apenas o assassinato de Indira Ghandi, mas os de Martin Luther King, John F. Kennedy, Abraham Lincoln, e Yitzhak Rabin, assim como a morte de Diana, Princesa de Gales. O matemático David Thomas fez uma SLE de Genesis e encontrou as palavras "code" [código] e "bogus" [falso, fictício] juntas não só uma, mas 60 vezes. Quais as chances disso acontecer? Será que isso significa que Deus introduziu um código para revelar que não há nenhum código? Os caminhos do Senhor são de fato misteriosos.

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