MITOS E MITOLOGIA
MITOLOGIA CELTA
É quase impossível expor em linhas gerais a complexa mitologia celta; inicialmente, é difícil fixar, no tempo e no espaço, o limite exacto do domínio celta; os celtas foram antes uma raça que um povo. Seu nome aparece pela primeira vez na obra de Hecateu de Mileto (Geografia, escrita por volta do século V a.C.). Etnologicamente, a Alemanha seria o centro do habitar primitivo dos celtas. Mais ou menos no século IX a.C. invadiram a Gália, em vagas sucessivas, que só terminariam no século II; no século VI estabeleceram-se na península ibérica; por volta do século IV, invadiram a Itália e se apoderaram de Roma (batalha de Alia, 390 a.C.). Os celtas continentais se estenderam pela Hungria até a Grécia e a Ásia Menor.
Jamais os celtas constituíram uma nação unida, coesa, homogénea; formavam tribos separadas, turbulentas, ciosas de sua liberdade, que se hostilizavam mutuamente.
Um segundo grupo de celtas, os insulares, ocuparam os países do Norte, Grã-Bretanha e Irlanda. Os últimos bandos de celtas, no século I da nossa era, passaram do Norte da Gália para a ilha da Bretanha, com o nome de Belgas.
Pouco se sabe da mitologia celta. A mitologia chamada celta-latina, ou galo-romana, ou galo-latina, que é a mitologia celta que chegou até nossos dias através dos escritos latinos (César, Tácito, Lucano etc.), traz, é evidente, os nomes e os atributos dos deuses à moda latina; sempre que isto ocorrer expressamente faremos menção, para que o leitor pouco familiarizado com a mitologia não julgue que o celtas adoravam um deus chamado Apolo ou Júpiter, por exemplo.
A LÍNGUA
Os celtas falavam uma língua pertencente à enorme árvore indo-europeia; infelizmente, é hoje extinta, Nada, ou quase nada sabemos dessa língua que, em dado momento, esteve espalhada por quase toda a Europa. Dela nos restam pouquíssimos vestígios. Os celtas fundiram-se de tal modo com os romanos, que as inscrições que até nós chegaram, trazem os nomes dos principais deuses celtas junto com nomes romanos, aos quais foram associados ou com os quais foram identificados:
Deo Mercurio Atusmeiro. Marti Latobio.
Marti Toutati. Marti Latobio Harmogio Toutati Sin-ati Mogenio...
Não sabemos, exactamente, qual era a denominação original desses deuses nem quais as suas precípuas funções; os romanos, ao deles ter conhecimento, imediatamente os identificaram com as divindades romanas, dando-lhes o mesmo carácter, atributos e funções.
Encontram-se, hodiernamente, vestígios da língua celta no baixo-bretão e no idioma gaélico, falado no país de Gales e na Irlanda.
Quase todos os dados mitológicos que possuímos são assaz recentes; do rico acervo original dos celtas, quando estes invadiram a Europa central (1500-1600 a.C.), quase nada sabemos; ignoramos mesmo se os mitos já estavam formados ou se já tinham elaborado uma cosmogonia.
Guinevere: (Guinevere em francês, Genevra em português), era filha do gigante Ogyrvan, protetor e iniciador do bardismo; nos textos primitivos era irmã de Artur, antes de ser sua mulher.
Os dois filhos (ou sobrinhos?), Gwalchmai e Medrawt, um bom e o outro mau, correspondem a duas divindades, da Luz (Ueu) e das Trevas (Dylan). Gwalchmai ("Falcão de Maio"), é Sir Gauvain e Medrawt, Sir Modrer. Um terceiro irmão, Gwalchaved ("Falcão do Verão"), tomar-se-á Galahad. Brandegore ésem dúvida "Brân de Gwales", reminiscência do Brân cristianizado que levou o Graal para a Bretanha.
Tão importante como o rei é o poderoso mágico Myrddin, que se tornou Merlin, detentor de todo poder, possuidor de todas as riquezas e senhor do País das Fadas. Uther Pendragon, ou Urien, pode muito bem ser Uthr Ben, a "Cabeça Maravilhosa de Brân", que viveu 87 anos depois de ter sido separada do tronco. Balan, enfim, seria Balin, o deus galo-britânico Belinus.
O ciclo mítico do Rei Marc'h (Mark) e da Rainha Essylt (Isolda, em francês Yseillt) e do seu sobrinho Drystan (Tristão), se prende, igualmente, à "matéria do Rei Artur". Multidão de personagens secundárias perdem a sua individualidade para se fundirem na imensa turba anónima dos korred (anões), korriganes (fadas) e morganas (demônios fêmeas das águas) do folclore bretão da península armórica.
Mesmo o elemento mais cristão da lenda medieval do Rei
Artur, a conquista do santo Graal, tem o seu fundamento na mitologia celta; trata-se da caldeirinha-talismã, provida de virtudes maravilhosas, que os deuses se afadigavam em roubar uns dos outros. O velho poema gaulês do Livre de Taliessin, "o Saco de Annwfn", relata como Artur se apoderou da caldeirinha mágica, mas, quanto à expedição, só retomaram sete, ainda que no momento do embarque, houvesse "três vezes ou mais para encher seu navio". A caldeirinha pagã mudou muito pouco para se tornar o santo Graal que José de Arimateia encheu com o sangue sagrado de Jesus Cristo.
ARVORES (CULTO DAS)
As árvores eram objecto de fervoroso culto por parte dos celtas; tinham veneração especial pelo carvalho; as árvores sagradas eram guardadas por fadas. Lemovices, Eburovices (povos da Gália) significam "guerreiros colocados sob a protecção do olmeiro (irlandês ibor)"; Mac Cuill, "filho da aveleira" é nome de um rei lendário da Irlanda e dum irlandês convertido por São Patrícia; Mac Dara é "filho do carvalho"; Mac Culinn, "filho do azevinho"; Der Draigin, "filha da acácia"; Der Froich, "filha da urze"; Elogan, "rebento do teixo"...
Como se vê, a dendrolatria céltica assumia carácter eminentemente prático: as árvores sagradas eram protectoras do povo.
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