quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A MUDANÇA E O CORAÇÃO


A MUDANÇA E O CORAÇÃO
Havia uma aldeia em que até os jovens viviam desiludidos, porque ali não acontecia nada de novo. As pessoas conservavam os mesmos hábitos desde muitas gerações. A pasmaceira terminou tomando conta de tudo e de todo mundo. Então, o chefe da aldeia resolveu fazer uma reunião com os seus conselheiros. Depois de muito discutirem, e sem chegar a uma solução prática, todo o conselho decidiu que o melhor era consultar Xangô.

Na consulta, Xangô aconselhou, sem muita conversa:

− Façam uma grande mudança em tudo.

Aí, o Conselho dos Mais-Velhos designou um grupo de homens e mulheres para realizar as mudanças necessárias. O povo foi convocado para participar ativamente. Queimaram as palhoças e fizeram outras novas. Mudaram os roçados de lugar. Até mesmo passaram a apanhar água de beber em outra fonte. As mulheres teceram novas roupas, as crianças inventaram novos brinquedos e todo mundo ficou contente.

            Mas vai daí a algum tempo, eles foram notando que alegria estava se desfazendo. A rotina trouxe de volta o mesmo desânimo de antes. A fonte nova, as novas palhoças, as brincadeiras novas, nada adiantou. A tristeza tomou conta de todos. O chefe convocou o Conselho novamente. Outra vez, resolveram consultar Xangô.

Perante o orixá, tudo foi relatado miudamente e Xangô ouviu a conversa com atenção. E ainda se queixaram de que a solução apontada na primeira consulta não deu resultado. Então Xangô quis saber:

− Que mudanças vocês fizeram lá dentro?

Ficaram sem entender a pergunta e pediram uma explicação. Xangô explicou com a mesma severidade de costume:

− Ora! Dentro das pessoas, no modo de ver o mundo, a vida, um ao outro... Dentro de vocês mesmos...

Olharam um para o outro, cochicharam entre si. Terminaram por chegar à conclusão que, na verdade, cada um permanecia como era antes. Então Xangô disse:

— A verdadeira mudança tem que acontecer primeiro, no coração!

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