quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O ENGANO DO AMENDOIM


O ENGANO DO AMENDOIM
Contavam os mais velhos que o pé de amendoim não andava nada satisfeito com a vida. Aquele negócio de ele botar semente apenas na raiz, sem ninguém poder ver o quanto ele era farto, deixava ele nervoso, aborrecido, contrariado. E ainda tinha mais uma coisa: sua ramagem era pequena, quase nem era notada. Logo ele, cujas sementes serviam para preparar um delicioso prato para Oxóssi, o Grande Caçador... E os homens mais idosos, ou os sem tenência, então... Esses eram os mais beneficiados, quando comiam suas sementes. Com tanta energia para oferecer aos humanos e estava ele ali, com uma ramagem sem expressão e as sementes escondidas debaixo da terra. E quando os humanos faziam a colheita, metiam a mão nas suas intimidades, arrancavam suas vagens e simplesmente deixavam suas ramas para secar em cima da terra. Ah, era demais!

Seu vizinho, o pé de feijão, lhe aconselhou fazer uma consulta. Assim fez o pé de amendoim. Disseram a ele que bem seria melhor se ele prestasse atenção nas suas raízes. Era próprio dele o axé correr todo para baixo. Era assim que sua raiz podia sustentar tudo e produzir sementes. Mas em todo caso, logo que ele queria inverter as coisas, ajuntasse as ramas secas da última safra e se alimentasse com elas. E quando chegasse o tempo de enramar, fosse botando brotos, brotos e mais brotos e aguardasse o resultado.

E assim fez o pé de amendoim. Então, aconteceu a maravilha: ele botou tanta rama, mas tanta rama, que invadiu os quintais, os outros pés de planta, as cercas, os telhados, tudo. E o povo ficou admirado com aquilo. O pé de amendoim se transformou na mais feliz das plantas. Nem cabia em si de tanta alegria: era motivo para olhares, elogios e até mesmo invejas e ciumadas.

Pois bem. Chegou o tão esperado tempo da colheita. Acontece que a Natureza não lhe concedeu a capacidade de botar sementes na rama. E aí foi aquele desconforto. Não acharam nenhuma semente nem nas suas ramas, nem na sua raiz. E que fez o povo? Passou a não dar a menor atenção ao pé de amendoim. Ao contrário, ele foi considerado um incômodo. Aquelas ramas, sem serventia para nada, deviam ser cortadas e queimadas. Afinal, havia plantas produtivas precisando de espaço.
            Nem é preciso dizer: o pé de amendoim entrou em outra crise, pior do que a primeira. Noites sem dormir, dias sem comer, queixas aos vizinhos, todo jururu, numa lamentação que fazia dó. E lá se foi ele fazer nova consulta. Quando voltou de lá, tinha uma nova decisão: ia deixar esse negócio de ramas para lá e dar toda atenção às suas raízes. De que adiantava tanta rama bonita se a serventia dele estava na raiz? Afinal, a aparência, mesmo bonita, não substitui a essência. 

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