quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O PREÇO DA INGENUIDADE


O PREÇO DA INGENUIDADE
Um dia, o cágado tinha saído para passear. Sorrateiro, lá se ia ele, vagaroso, pois tinha todo o tempo do mundo para gastar naquele passeio. De repente, ao atravessar uma estrada em busca de comer qualquer coisa, ele descobriu uma trilha de formigas. Como estava mesmo sem fazer nada, resolveu fazer uma perversidade com elas. Passou por cima da trilha e esmagou um bocado de formigas que estavam carregando comida.

Confiante na sua superioridade, seguiu em frente, conversando sozinho:

− Afinal, quem vai se incomodar com algumas centenas de formigas esmagadas?
E lá se foi ele. Apressou o passo para sair daquele lugar, mas pisou em falso, caiu de barriga pra cima e ficou se esperneando, sem poder se desvirar. Caro lhe custou sair daquela posição. Depois de muito esforço, se desemborcou. Passou um tempo retomando o fôlego e seguiu adiante.

Já perfeitamente recuperado, o cágado ouviu uns gritos e quis saber do que se tratava. E quando chegou ao lugar de onde vinha o alarido, o cágado viu: era a onça segurando firme o macaco pelo rabo. O prisioneiro se esperneava, rodava, guinchava e nada da onça soltar o rabo dele.

O cágado tem lá suas qualidades, todos os bichos sabem disso.  E ele quis saber do que se tratava. Afinal, aquele escarcéu estava tirando o sossego de todo mundo. O macaco, muito aflito, resolveu contar, enquanto a onça também se sentou, aguardando. A onça tinha caído numa armadilha e ficou presa três dias, com fome, pedindo socorro. O macaco ouviu o alarido, procurou e descobriu a onça no fojo. Todo prestativo, resolveu ajudar da maneira que sabia. Providenciou um cipó, mas o cipó era curto e não chegava até o fundo da armadilha.

Mas ele não ia desistir tão fácil assim. Logo ele, tão gabado por todo mundo, pela sua esperteza e sagacidade... Dependurou-se no cipó, estirou o rabo e mandou que a onça escalasse a parede do fojo, agarrada ao rabo dele. Assim a onça fez e conseguiu sair da armadilha. Agora ela não queria soltar o rabo dele.

O cágado, então, disse ao macaco que seu depoimento era maravilhoso. E que agora ele batesse palmas e limpasse as mãos no chão, pois era assim que se devia proceder no final de um depoimento. Assim o macaco fez. A onça assistiu a tudo, muda, na certeza de que, agora, ia ter duas refeições... Pois bem, o cágado disse para a onça que também queria ouvir o depoimento dela. A onça disse que não ia mais largar o rabo do macaco, porque ela estava com fome há três dias e macaco era uma boa caça. Mesmo, não havia razão alguma para ela soltar o rabo do macaco.

O cágado elogiou o depoimento da onça e disse que ela procedesse do mesmo modo que o macaco fez: batesse palmas e limpasse as mãos no chão. A onça fez o que o cágado mandou. Aí, o macaco aproveitou o vacilo da onça, escapuliu e sumiu na copa das árvores. A onça, irada, deu um bote certeiro, pulou em cima do cágado, estraçalhou sua carapaça e devorou o bicho num instante.

Pois é... A gente não paga apenas o mal que pratica. Também paga muito caro, as besteiras que comete.

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