quarta-feira, 15 de junho de 2011

Movimento Eclético


O grande problema com essa questão do ecletismo,  é que houve uma abordagem totalmente errada a respeito,  ao menos no que se refere à Wica particularmente,  que é o que nos interessa de perto.  Creio que a melhor forma para se compreender esse assunto,  é começar pela definição de ecletismo, extraída do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa:  ecletismo – reunião de elementos doutrinários de origens diferentes que não chegam a se articular em uma unidade sistemática consistente.
Pois bem,  como podemos verificar,  essa definição nos orienta de maneira contundente para o cerne da questão.
Mas antes de analisarmos o termo em si,  temos que estar atentos a determinadas linhas de pensamento que estão inseridas no pensamento eclético,  como por exemplo,  a comum fuga do que é chamado de “dogma” pelas tradições ecléticas,  que envolve uma visão completamente errônea,  e que terminou se transformando num sinônimo de rigidez e intolerância.  Talvez o maior culpado dessa interpretação tenha sido Bertrand Russell,  que considerava o pensamento dogmático como um mal.  É preciso saber de antemão,  que um dogma é uma certeza interior (religiosamente falando),  o que difere totalmente da concepção dogmática política.  Religião não é política e nem politicagem,  e aqueles que vêem o dogma como uma abordagem política estão longe de serem religiosos, no total sentido da palavra.
Assim,  o ecletismo como vimos resume-se no aglomerado de diversos elementos doutrinários de várias origens,  o que na minha visão e observação,  jamais poderá originar um novo e coerente corpo doutrinário.  Como sabemos que a maioria das pessoas desconhece ou interpreta de maneira errada o que seja uma doutrina,  vamos falar algo a respeito.  Doutrina subentende-se por um conjunto coerente de idéias a serem transmitidas por ensinamento,  que se tornarão um conjunto de preceitos e princípios,  além de procedimentos e métodos,  que serão os fundamentos de um determinado sistema voltado para a orientação e a ação.
Visto isso,  podemos então verificar que nenhum sistema eclético poderá obter um corpo de unidade sistemática consistente.  Tal pluralismo e tal diversidade por si sós,  invalidam essa articulação ou a união de idéias tão diferentes num só sistema.  Se isso fosse possível,  não estaria havendo tanta confusão a respeito desse tema dentro da Wica.  Que o paganismo seja eclético e diversificado podemos entender.  Mas diversidade dentro de uma mesma estrutura e de um mesmo sistema religioso é impossível.
Wica é o que foi aprendido e ensinado por Gerald Gardner.  Podemos definir Wica como um sistema religioso e mágico,  baseado no equilíbrio das Polaridades Divinas,  sistema esse que segue um corpo próprio de Leis, rituais e práticas estabelecidas.  Wica é uma unidade sistemática consistente,  apresentada aos iniciados nos anos 50 do século XX, e que era o resultado de centenas de anos de evolução.
Também parece estar havendo uma imensa confusão quanto aos termos “evolução” e “diversidade”.  Tudo evolui,  inclusive as religiões,  mas daí a se defender a desestruturação do sistema religioso consistente chamado de Wica,  pautado na falsa teoria de que pode haver diversidade dentro de um mesmo sistema,  é totalmente infantil.  Vamos recorrer novamente ao Dicionário da Língua Portuguesa:  diversidade – divergência, contradição, oposição, diferença.
Desse modo, se é contraditório, diferente,  como pode fazer parte da mesma unidade sistemática ?   Isso é impossível.  E as contradições surgem por todo o caminho,  e só não vê quem está mergulhado nesse mar de confusão, pois quem está de fora observando não perde a realidade.
Assim, podemos observar a contradição na própria definição do termo diânico, apresentado  pelos seguidores dessa vertente pagã:  “O termo “Diânico” se refere a qualquer ramo da Bruxaria que enfatiza o feminino na natureza, vida e espiritualidade ACIMA do masculino.”   Só nesta frase,  já podemos verificar que o ramo diânico não pertence à unidade sistemática consistente divulgada por Gerald Gardner,  a qual ensina estar baseada no equilíbrio das Polaridades Divinas.  Como Wica é o que foi divulgado por GBG,  percebemos que dianismo é algum culto pagão,  mas está longe dos dogmas, filosofia, ritualística e fundamentos da Wica.
Tudo isso é bastante claro para qualquer um que tenha uma mente analítica.  Mas continuemos.  Uma outra abordagem sobre o que seja dianismo nos é fornecida pelos próprios seguidores dessa vertente pagã,  como segue:  “Quando uma pessoa escolhe ser Diânica, ela escolhe ser focada primeiramente na figura central da Deusa. O Deus,  quando e se reconhecido, participa limitadamente da liturgia e ritos. Muitas vezes ele é considerado apenas como uma das muitas faces da Deusa.”    Novamente nessa afirmação podemos verificar a total negação e contradição dos fundamentos da Wica, porque o que foi ensinado por Gardner traduz-se por uma religião duoteísta, centrada no Deus e na Deusa,  nas Polaridades Divinas.  Negar ou diminuir um em detrimento do outro,  é tornar o rito completamente desequilibrado em seu princípio mais sagrado.  Então, perguntamos,  dianismo é Wica ?
Muitas vertentes pagãs que seguem a supremacia de uma polaridade sobre a outra, há muito deixaram de se denominar wicanas, haja vista o que a própria Starhawk declarou em seu site,  declarando-se praticante de uma linha de bruxaria (witchcraft)  ao invés de Wica.
Não estamos querendo impor nenhum tipo de dogmatismo.  Estamos somente usando da mesma lógica usada pelos seguidores ecléticos,  quando tentam explicar a validade do seu próprio sistema chamando-o de Wica.  Se a lógica serve para eles tentarem, sem resultado, validar suas práticas,  também servirá para que os tradicionalistas mostrem onde ela é  falha.

Nenhum comentário: