quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Deus e a Deusa


Um problema gritante que nos assalta atualmente é a interpretação errada da teologia tradicional.  Durante muitos anos, eu e outros sacerdotes tradicionais, tentamos inutilmente conscientizar o movimento pagão aqui no Brasil de que a nossa religião cultua um casal de deuses cujas Polaridades Sagradas são o alicerce de toda a estrutura da Bruxaria Tradicional Britânica.  Infelizmente, após sermos insultados e difamados na maioria das vezes por buscadores ecléticos,  decidimos nos retirar dos meios virtuais e das listas da Internet.

Qualquer pessoa que dedicar algum tempo à leitura dos textos tradicionais,  como a  Descida da Deusa,  por exemplo,  perceberá nele elementos teológicos que tornam a Wica Tradicional uma religião única.  Todos esses elementos,  foram estabelecidos como um sistema único por Gerald Gardner no início dos anos 1950,  bem como por Doreen Valiente que reescreveu alguns dos nossos mais belos textos teológicos e litúrgicos.  Para os que possuem conhecimento tradicional,  é muito fácil verificar com a leitura desses textos,  que o pilar da nossa religião está calcado nas Polaridades Divinas e na sua manifestação no Círculo.  O estudo e a compreensão dessas Polaridades é essencial para a prática da religião e seu sacerdócio.

Assim,  cultuamos um casal específico de Deuses,  algo muito diferente do que acontece hoje em dia com a maioria das correntes pagãs que usam o nome  “Wicca”,  mas que estão distantes anos luz de nossas práticas.  Nossos Deuses não são quaisquer deuses.  Nossos deuses são deuses cósmicos por excelência, cujos atributos estão diretamente ligados à nossa teologia e que se traduzem na Deusa como a Deusa da Lua e das Estrelas,  e no Deus como o Deus da Vida, Morte, do Submundo e das florestas selvagens.

A Deusa é a própria Alma da Natureza. Dela todas as coisas vem e para Ela todas voltam.  O Deus é o Antigo, o mais antigo dos deuses, o Senhor da Vida e da Morte.

Colocar qualquer outra divindade em pé de igualdade com Eles, ou seja, afirmar que todos os deuses são O Deus e todas as deusas são A Deusa,  é uma asserção totalmente contrária à teologia e liturgia wicana.  Fazendo uma comparação, os dedos dos meus pés não são eu, são um pequeno aspecto do meu corpo, mas não podem ser colocados no mesmo patamar que eu,  pois como todo ser humano sou uma entidade muito complexa.  Afirmar que deuses menores também podem ser divindades cósmicas não cabe na teologia da Wica.  Nem todos os deuses são deuses da floresta selvagem, da Vida e da Morte.  Nem todas as deusas são deusas da Lua e das Estrelas.

Assim, tanto o Deus de Chifres quanto a Deusa, são duas divindades primais, cuja dança cósmica das Polaridades e atração mútua criam e expandem o universo como manifestação.  Então,  Eles são o poder supremo,  acima de qualquer outra “coisa”,  que se expressa na manifestação do mundo através da dança dos opostos complementares.  O Deus é onipotente e a Deusa é onisciente,  porém Ele colocou seu poder aos pés Dela no mito da  Descida da Deusa,  e Ela deu sua sabedoria a Ele.

Teologicamente,  o fundamento das Polaridades caracteriza de modo único a essência e a natureza da Wica Tradicional,  cujas características podem ser percebidas por qualquer observador imparcial.  Segundo alguns autores wicanos tradicionais,  algumas dessas características são as seguintes:

a) Como já vimos, a natureza dual da Divindade,  cujas Polaridades Deus/Deusa  implicam na recriação terrena dessa atração amorosa entre parceiros de sexos opostos,  uma vez que nossas divindades são consortes.

b)  Isso nos leva ao Mistério maior da religião,  O Grande Rito,  que é uma representação real ou simbólica da união heterossexual, uma vez que um Sacerdote e uma Sacerdotisa conduzem os ritos.

c)  As iniciações na Wica sempre acontecem de homem para mulher e de mulher para homem,  não existindo iniciação entre pessoas do mesmo sexo na religião.

d)   Muitas práticas utilizam o que nós chamamos de ‘troca do poder erótico’, tais como o açoite,  por exemplo,  e essas práticas são usadas para induzir transes e/ou causar excitação.

e)   O BoS (Livro das Sombras) nos fala claramente que essas práticas em parceria conduzem inevitavelmente à intimidade romântica,  sendo que o  BoS nos diz que isso é bom.

   
Portanto,  seguir e professar Wica significa escolher praticá-la dentro do seu espírito original e reconhecer que Wica é uma religião altamente romântica e erótica e trabalha com essas energias.

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