quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sacerdócio e Vocação


Sempre olhei para essa questão da mesma maneira. Para mim, vocação e sacerdócio tem que caminhar juntos.  Um não pode existir sem o outro,  mesmo porque as exigências da função determinam essa necessidade.  E tal necessidade se traduz naquilo que costumo chamar de amadurecimento espiritual. Amadurecer é tudo.

Existem certas funções que trazem a exigência de uma vocação.  Por exemplo,  o médico, o policial,  o sacerdote.  Quando essa vocação não está presente na alma,  aquele que desempenhará o ofício será um médico, policial ou sacerdote medíocre;  no nosso caso um sacerdote de segunda mão.  Podemos perceber o por que disso se nos dermos conta de que para seguirmos um caminho sacerdotal precisamos ter atingido um florescimento interno em termos de transcendência.  E é aqui que começam os problemas.  Quem não transcendeu suas limitações,  não estará apto para servir.  E o médico, o policial e o sacerdote  são servidores.  É preciso muita renúncia,  muita dedicação,  muito amor.  Todas as vezes que penso a respeito desse tipo de doação,  percebo que é imprescindível que aquele que serve tenha mergulhado na corrente viva da existência e no mínimo tenha compreendido as limitações do próprio ego.

Hoje em dia a situação é bastante triste.  Ninguém pensa em servir,  em se doar,  em confiar.  As pessoas só pensam em serem servidas,  em receber, e ninguém mais confia.  Tenho recebido inúmeros e-mails dizendo a mesma coisa,  e parece que esse discurso é combinado:  “Quero ser iniciado, mas não confio em nenhum sacerdote e não pretendo me abrir.  Como posso fazer ?”   A resposta é sempre a mesma:  “Não pode fazer coisa alguma!”   Religião é basicamente confiança e quanto mais essas pessoas estiverem presas à sua mente racional, menos serão capazes de conhecer o que é profundo.  E então ficamos assistindo a essa imensa superficialidade e a esse comércio descarado que já conhecemos.   Então, a única resposta é essa,  porque a pessoa que faz esse tipo de declaração,  apenas declarou sua total incapacidade para ser um sacerdote,  para servir.

Vocação é imprescindível.  É essencial ter talento, disposição, predestinação. É essencial ser predestinado para servir.  E sacerdócio é uma eterna servidão. Só que ninguém quer isso.  Todos querem status,  querem fama,  não trabalharam e abandonaram seu falso ego e agora estão desviando seus interesses mundanos para o mundo espiritual.  Entretanto a espiritualidade não pode ser atingida dessa maneira, porque isso é pura violência.  A espiritualidade só pode ser alcançada no silencio,  jamais no tumulto, na multidão,  no mercado.

Se certas pessoas ficam ofendidas com as minhas palavras,  paciência.  O que eu estou afirmando é a mais pura verdade.  E nas vezes em que sou atacado por dizer a verdade,  mais me conscientizo de que o que estou afirmando é o correto.   Isso pode ser verificado muitas e muitas vezes no decorrer do processo de aprendizado,  e as pessoas que não possuem vocação cedo ou tarde irão embora porque eu mesmo crio situações para que elas se vão.  E a coisa mais fácil neste mundo é pessoas irem embora.  Isso é muito fácil.  O difícil é fazer com que elas fiquem porque todo mundo está sempre pronto para partir, uma vez que se conscientizar, abandonar seus bloqueios e neuroses é a aventura mais difícil que existe.  É doloroso, dá trabalho, leva tempo, requer uma abertura incondicional, etc., etc.

Como tudo isso é penoso,  então alguns grupos pseudo-religiosos estão incentivando essa tal de auto-iniciação.  Isso é que é legal.  Não dá trabalho,  qualquer um pode se tornar  “sacerdote”  na hora que quiser,  nenhuma luta interna se processará.  Assim não existirá luta e tensão.  Mas também não existirá honestidade.  E atualmente parece que a palavra honestidade se desprendeu e caiu de dentro do Dicionário.

Esse é o problema com o mundo hoje em dia:  médicos que entram na profissão por dinheiro e sem nenhuma vocação, causando mais erros médicos que acertos;   policiais corruptos que protegem bandidos e matam cidadãos inocentes;  sacerdotes interessados apenas em publicidade,  dinheiro e fama.  É isso que a falta de vocação para servir causa.  Entretanto tenho percebido que isso é tremendamente destrutivo,  e não trará felicidade aos envolvidos.  Apenas aborrecimentos, transtornos, desilusão.

A mentalidade dos falsos sacerdotes,  dos mascates e “vendilhões do templo” é aquela mesma mentalidade aquisitiva do ego:   existem poucos wiccans tradicionalistas,  e existem milhares de auto-iniciados,  logo a verdade está com a maioria.  Um teorema fajuto, ignorante e bastante superficial,  mas racional.  Essas pessoas não saíram e abandonaram a noite da ignorância,  não tem o mínimo vislumbre do que possa ser um caminho espiritual verdadeiro.  São pessoas que iniciaram a jornada pelo final,  são pessoas que começaram a jornada pelo divino,  pela “Deusa”  (aquela que inicia todo mundo de qualquer jeito).   Essa gente começa pela conclusão.  Porém essa conclusão só acontecerá quando não houver mais ninguém, porque quando você não está,  Ele e Ela estarão.  A pessoa é a barreira, o obstáculo, mas é impossível explicar isso e não é possível fazer com que alguém entenda isso pela razão.   Qualquer início se dá a partir de você.  Qualquer outro expediente é uma total viagem do ego.  Mas todo mundo começa pelo fim,  e então tudo se perde na mais pura ilusão.  Só que não dá pra explicar.

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