quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os problemas com a Wicca


Atualmente a Wica vem passando por certos problemas que tem causado muito stress entre os novos convertidos.  Tais problemas derivam,  em primeiro lugar,  da falta de uma formação real, verdadeira e consistente,   concernente aos ensinamentos e sua transmissão.  A esmagadora maioria dos que se tornam  “wiccanos”  hoje em dia parece cair de pára-quedas no seio da religião após a leitura de livros cujo conteúdo nem sempre corresponde ao ensinamento tradicional.  Por mais consistente que um livro possa ser,  seu conteúdo jamais tornará ninguém um wiccano experiente.  O motivo disso já é mais do que conhecido por todos:  a natureza reservada e hierárquica dos covens originais,  praticava um tipo de ensinamento oral que nunca chegou a ser escrito,  além do mesmo poder diferir de coven para coven,  mantendo é claro sua essência.  Assim,  os covens Gardnerianos mantiveram sua estrutura fechada e tudo o que  “transbordou”  desses grupos sempre foi muitíssimo superficial.

Posteriormente,  os ocultistas que foram atraídos pela Wica,  tinham um conhecimento muito limitado e fragmentado a respeito da própria ritualística da religião,  além é claro do desconhecimento quase completo do próprio BoS.  Partindo de um conhecimento ignorante da religião,  começaram a passar informações cada vez mais truncadas.  Muitas pessoas acreditam que o conhecimento do BoS está mal escrito,  mas realmente era esse mesmo o objetivo de Gerald Gardner:  se alguém não iniciado conseguisse obter o BoS, com certeza não teria uma visão real dos ritos,  mas uma pálida, nebulosa e sombria amostragem dos mesmos.  Justamente por causa disto é que ele se chama Livro das Sombras.  Então,  algo bastante mais problemático se estabeleceu no cenário mundial.  As pessoas começaram a analisar o BoS e tiraram a conclusão de que o conhecimento não estava no Livro em si,  mas no interior das pessoas.  Essa conclusão é verdadeira,  porém em parte.  Os novos seguidores dessa “Wicca” popular,  passaram a citar trechos da Carga da Deusa para  justificar essa  “descoberta”,  essa quase iluminação:  “Pois se aquilo que buscas não se encontra dentro de ti,  não a encontrarás fora de ti.”  E então esses novos convertidos,  sem treinamento, sem iniciação,  sem acesso ao conhecimento oral,  passaram a esperar por uma revelação trazida pela Deusa, algo quase como um milagre cristão,  uma revelação divina que ofereceria os mistérios escondidos no BoS.

Infelizmente esse tipo de pensamento e de conclusão errados,  serviram para afastar cada vez mais esses buscadores do verdadeiro caminho.  Estressados pela total escassez de informação, passaram a ver os livros publicados como fontes de informação que possuíam as chaves do poder ancestral.  E desse modo, iniciou-se a maior mistura de conceitos, ritos, fundamentos,  transformando essa “Wicca” popular num poço de informação duvidosa,  errada e completamente diferente do que era e ainda é praticado nos covens tradicionais.

Um outro problema que geralmente está ligado ao triste caso da desinformação,  diz respeito àqueles postulantes que conseguem ingressar num coven tradicional,  mas o deixam sem completar seu treinamento e sua formação.  O resultado disso,  como já observado através dos anos inclusive com a própria “Tradição Alexandrina”,  foi a elaboração de um sistema mágico alienígena,  que esses praticantes teimam em chamar de “Wicca”,  mas que está anos luz de distância da verdadeira natureza do culto.  Portanto, qualquer um que receba esse conhecimento fragmentado,  não poderá nem ensinar e nem dar assistência àqueles que se dispõem a ser postulantes.  E isso é fácil de ser entendido,  já que basear seus métodos de ensino nos textos do BoS sem conhecer os fundamentos da religião ensinados durante o processo iniciático,  é passar adiante um sistema mutilado, incompleto, superficial e até mesmo perigoso de ser seguido.  Como tenho dito durante os últimos anos em algumas palestras,  existe um postulado mágico que diz:  “Nunca pratique um sistema mágico que você não conheça completamente”.   E assim,  nós tradicionalistas,  temos que assistir pessoas despreparadas praticando um sistema mágico mutilado e misturado,  e ainda por cima chamando isso de “Wicca”.  Talvez fosse cômico,  se não fosse trágico.

Parece que é uma praga do mundo moderno acreditar que qualquer tipo de disciplina,  qualquer tipo de autoridade deve ser evitado e até mesmo combatido.  Hierarquia e disciplina são necessários em todo processo educacional.  Se atualmente vivemos num mundo de declarada violência e total desrespeito,  isso se deve ao modelo educacional atual,  no qual os pais se desligaram totalmente da educação dos filhos achando que isso é uma obrigação da escola e dos professores.  O que isso acarretou é que, mais tarde,   quem vai disciplinar esses jovens e futuros adultos é o Estado.

Disciplina e hierarquia são o alicerce de qualquer aprendizado espiritual e mágico.  Praticar magia e bruxaria sem ter passado por isso é o mesmo que no dizer de Arthur Machen  “querer ganhar o céu de assalto”,  ou seja,  uma heresia cujos resultados podem ser um desastre.  A mentalidade distorcida crê que a disciplina e a hierarquia existem para criar um modelo elitista,  porém esse tipo de mentalidade jamais poderá compreender os verdadeiros motivos para tal estrutura.  A hierarquia existe,  e é por um motivo importantíssimo.  O poder precisa ser transmitido,  o conhecimento tem que ser conseguido através de trabalho árduo,  e não “gloriosamente revelado”  por alguma Deusa para qualquer um que se arvore a entrar de assalto na religião.  Portanto, a maior mentira que tem sido propagada atualmente é aquela que diz que os Mistérios serão  “revelados” ao iniciado.  Quem espalha essa bobagem não só não recebeu o conhecimento como está enganando aqueles que pretendem obtê-lo de modo fácil e ignóbil.

E tudo isso é ainda mais complexo na Wica,  uma religião tremendamente erótica e sexual, cujo culto envolve e trabalha com uma energia imensamente poderosa:  a magia sexual.  Grupos presos a conceitos puritanos, tem transformado a Wica num desafortunado e deformado culto.  Essa situação piorou consideravelmente depois que certos grupos pós-modernos adotaram uma deusa assexuada,  cultuada por adolescentes,  a qual chamamos  como  “Jeová de Saias”.  Trata-se de um terrível fingimento do culto ao princípio feminino.  Essas pessoas não tem a mínima idéia do que seja cultuar esse poder,  mesmo porque tal culto é completamente desequilibrado pela negligência da invocação do poder masculino correspondente,  que equilibra as forças colocadas em movimento no ritual.  Todos os que receberam uma formação séria na Arte, sabem que operar apenas com o poder lunar, negligenciando o poder solar,  leva a uma considerável perda da ligação com a realidade formal e física;  não podemos esquecer que o poder lunar regula as correntes do plano astral,  e operar apenas com esse poder é proceder a uma perigosa confusão dos planos individuais.

Portanto,  mais uma vez pedimos aos que realmente querem professar nossa religião com seriedade,  que procurem covens e sacerdotes sérios e experientes.  As pessoas tem confundido liberdade de pensamento com permissividade de ação.  Tal atitude irresponsável poderá causar irremediavelmente a perda e a degeneração não só da Antiga Religião como a de seus praticantes.

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