quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sobre Os Deuses


Uma das principais razões porque eu fui atraída para a Wica é que ela honra a masculinidade e a feminilidade; especialmente na divindade da deusa e do Deus de Chifres.

Pan é um deus muito sexual. Ele é também uma das primeiras deidades que eu desenvolvi um intenso e completo relacionamento pessoal. (A outra foi a Deusa da Lua, em qualquer de seus nomes.)

Eu creio que a polaridade conduz e agrega alguma intensidade ao culto da deidade. Eu também estou intensamente voltada a cultuar a Deusa, mas isso é um aconchegante tipo de amor; enquanto que o Deus de Chifres freqüentemente é sentido como uma presença termonuclear na minha vida.

Wica é uma religião erótica, e quando nossa experiência com o Deus de Chifres se torna sexual, então isso aumenta a intensidade e o poder da experiência. Quando mulheres encontram-se atraídas para o deus de Chifres, ou os homens para a Deusa, o poder da polaridade amplia o encontro com a divindade. Mas o deus de Chifres é também um Deus da morte e do submundo, e o aspecto Morte pode ser outro modo intenso de se conectar com ele, e o modo que pode nos ensinar muito sobre a vida. Mas o Deus de Chifres é muito mais do que somente sexo e morte.

Talvez nós o vejamos principalmente como um Deus do sexo e da morte – o deus fértil da floresta selvagem e o terrível guardião dos portões das sombras. Mas ele tem muitos outros aspectos também: ele é a força e o fogo de todos os tipos, especialmente o fogo do sol, e o relâmpago na tempestade. A energia do sol que desce e é absorvida pelas plantas verdes,  e assim ele se torna o “Green Man”.  E os grãos verdes que se tornam dourados, e  as sementes caídas e colhidas, e assim ele se torna “John Barleycorn”, o deus dos grãos.  Ele é o espírito dos animais que comem as plantas – o bode, os cervos, o touro e o carneiro.  E ele é o caçador que conduz as bestas, e dirige a caçada Selvagem. Finalmente ele é o deus da sepultura e do que existe além.

Assim o grande quadro que eu tenho do Grande Deus de Chifres é que ele é o fogo cósmico ou a força ou energia que mantém todo o universo girando. Ele é o Todo Criador e o Destruidor, o Consumidor, porque ele é a verdadeira Força de Vida da Natureza – o fogo do sol que consome os restos de poeira cósmica, e as plantas que absorvem o fogo solar, os animais que comem as plantas e o Caçador que se alimenta dos animais, e é então o escuro deus ctônico sob a Terra que consome todos os seres quando eles morrem.

Assim o Deus de Chifres é o Espírito ativo ou Força ou Fogo de toda a Natureza, assim como a senhora  é a Fonte passiva e o Oceano do Ser, que é a Alma da Natureza. Ela tece a teia do destino,  mas ele é o dínamo que gira a roda do destino. Dela é o caldeirão da transformação, o vaso no qual toda a criação acontece; e dele é o fogo transformador.  Não é por acaso que Pan significa “Tudo”, porque Pan é o Todo, e o Todo é Pan.

Desse modo, eu vejo o Deus de Chifres como um deus cósmico, a suprema divindade masculina (ou ativa) do universo, totalmente igual e complementar à Deusa.  Mas dele é o poder do vigor e dela é a magia da sabedoria; ele é onipotente enquanto ela é onisciente, e juntos eles são a totalidade, o Duo Divino que vive na Natureza e se manifesta no cosmos.

Alguns parecem crer que o Deus de Chifres é uma espécie de modelo para os homens; mas certamente não é isso que os deuses são, claro. Se as divindades da Wicca são vistas como para servir de modelos, então eu suponho que isso deveria requerer uma Deusa Física ou Engenheira para trazer inspiração quando estou no laboratório.

Mas os deuses não estão aqui para servirem de modelos para os humanos, e isso parece para mim uma arrogância, pois essa não é sua função.

Não, os deuses são vastos e misteriosos além da compreensão humana, e nosso relacionamento com eles é uma experiência divina e de reverência esmagadora. O que é que eles oferecem para nós:  “Deixe seu eu divino mais oculto ser envolvido pelo arrebatamento do infinito”.  Os deuses nos oferecem êxtase e bem-aventurança e um vislumbre do infinito e eterno. Mas a razão porque eles podem fazer isso é porque eles são Deuses e nós mortais, e há um imenso abismo entre nós – o profundo abismo do Mistério.

Por essa razão, nós realmente não devemos tentar imitá-los de modo algum. Homens que se permitem ser possuídos por um Deus até mesmo por um pequeno tempo, freqüentemente encontram loucura e morte prematura; porque a presença Divina não é alguma coisa que a nossa frágil forma humana esteja apta para reter muito facilmente. Assim, os deuses não são modelos para os humanos.  (Estou falando aqui da Grande Deusa e do Grande Deus de Chifres da Wica. Nossas atitudes para com semi-deuses de atributos limitados podem ser muito diferentes.)

Comparado com o vasto Mistério que os Deuses nos oferecem, parece pequeno e insignificante insistir que eles devam servir como modelos dos nossos propósitos de nos tornarmos poderosos. O ponto da magia (ou mesmo a vida sem magia) é que nós devemos estar aptos para nos fortalecermos. Nós não nos voltamos para os Deuses para consertarem as nossas vidas, mas nós nos voltamos para eles para nos transportarem para  o inefável e transcendente coração da Natureza, que é puro Mistério.

O que não significa que nós não podemos nos voltar para eles num momento de dificuldades; mas o relacionamento é, primeiro e o principal, o culto e a reverência.  E na minha experiência nós nos tornamos mais intimamente familiares com os Deuses; o amor e o culto se aprofundam.

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