quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sexualidade Wicca


Eu estava acompanhando uma discussão em uma lista americana a respeito das implicações referentes a juramentos de fidelidade e intimidade sexual com pessoas que não sejam parceiros casados.  Normalmente, esses juramentos são feitos em cerimônias de religiões ortodoxas (judaísmo, cristianismo, etc) e retratam uma visão centrada em regras mais mundanas do que precisamente religiosas.  Toda essa atual auto-repressão vem certamente de tais regras, e isso tem afetado bastante, por parte de praticantes modernos, a compreensão de fundamentos bastante específicos e imprescindíveis da Wica, e também da Bruxaria.
Na minha visão do assunto, acredito que as pessoas saibam de ante-mão quais são os ritos de Wica antes de serem iniciados.  É por isso que atualmente praticamos a regra de esperar um ano e um dia para elevar alguém na Arte.  Infelizmente, o sexo tornou-se um enorme problema para a humanidade após o advento da repressão religiosa tanto no ocidente quanto no oriente.  Só existem, na verdade, duas coisas que nunca são comentadas abertamente: sexo e morte.  E infelizmente,  são essas as duas únicas coisas que a Bruxaria e a Wica cultuam.
Então, assistimos a uma degeneração (mais uma entre tantas) dos ritos wicanos, ritos esses imprescindíveis para a realização de qualquer ritual.  Gostaria de saber que pagãos são esses, que ao serem admitidos num círculo e iniciados, continuam seguindo regras e dogmas de outras religiões ?   Se essas pessoas não trabalharam seus condicionamentos e repressões,  como puderam ser iniciados ? Essas perguntas, até onde sei, permanecem sem resposta e tenho procurado postergar iniciações de pessoas que não se libertaram de suas prisões.  Enfim,  tais problemas jamais deveriam sequer existir, quanto mais serem motivo de discussão entre iniciados.
Mas as pessoas são reprimidas e esses condicionamentos foram impostos pela força e pela selvageria dos fanáticos.  Na verdade, todo mundo sabe que a melhor maneira de se controlar pessoas é mantê-las com medo.  E o maior medo que existe é aquele que vem de regras impossíveis de serem cumpridas.  As religiões ortodoxas esmagaram a sexualidade como uma coisa suja, vil e anti-religiosa.  A visão do paganismo é totalmente distinta disso,  mas foram aquelas mesmas religiões ortodoxas as responsáveis pela destruição desse mesmo paganismo e pela imposição dessas regras.  A sexualidade é tão natural quanto respirar.   Torne uma coisa natural proibida e você criará a culpa e dominará a população.
Então, ainda não consigo entender como juramentos e regras impostas por outras religiões podem afetar o desenvolvimento de ritos pagãos.  Quando alguém se converte à Wica, faz juramentos aos nossos Deuses.  Mas a repressão vem de longa data,  e as pessoas terminam quebrando sua própria ligação com os deuses wiccanos, tornando a nossa religião um simulacro sem nenhum sentido,  mais parecendo uma brincadeira de crianças.
Não consigo entender como pessoas iniciadas ainda permanecem atreladas nesse cabresto, uma vez que dentro de um círculo wiccano todo e qualquer tipo de identidade mundana se torna irrelevante e qualquer tipo de ligação exterior perde o significado.
Talvez a culpa desse problema se deva a acontecimentos ocorridos na Inglaterra no final dos anos 60 e início dos anos 70,  quando houve um movimento religioso ortodoxo no sentido de, novamente, tentar destruir o paganismo e particularmente a Wica como uma religião válida.  Algumas Sacerdotisas empenharam-se em desfazer a impressão causada por esse movimento,  entre elas Eleanor Bone e Patrícia Crowther.  No sentido de tentar tornar a Wica uma religião aceitável,  elas jogaram por terra muitos fundamentos da Arte (ao menos para o grande público),  e isso se tornou uma verdade para pessoas que não haviam sido iniciadas de verdade,  leram alguns livros e fundaram “tradições” que na minha opinião não são válidas.
Ano passado postei neste forum um texto escrito por Linda Landstreet a respeito desse assunto e da moderna impossibilidade de realizar o GR e outras cerimônias, transformando-as em palhaçadas simbólicas sem nenhum poder ou ligação com os Antigos.
Parece que a percepção atual a respeito desses ritos, é de que eles expressam atos sexuais ou orgias, quando na verdade não são relações sexuais comuns ou mesmo um casal comum se amando,  mas a União Mística e Sagrada de duas pessoas que se dissolveram completa e profundamente uma na outra e que abriram espaço para os Deuses atuarem por meio deles.  Se os modernos wiccanos rejeitam isso,  então ainda quero saber o que estão fazendo na nossa religião ?  Estão aqui por modismo ou interesse ?  Quando se diz que nem todos são para a Wica, não é por menos.
Atualmente,  os modernos ‘sacerdotes’ wicanos desconhecem completamente os fundamentos mais primários da religião ou descartam-nos como algo vergonhoso.
É a intromissão do mundano na esfera religiosa.  Seria melhor que essas pessoas resolvessem seus problemas psicológicos e suas limitações, antes de botarem o pé na Wica.
Os livros não tratam desse assunto, que se tornou um tabu desde que tiveram que mostrar a Wica como uma religião da natureza, uma religião meio que cor-de-rosa e ingênua. As pessoas se esquecem de que essa premissa é para o público ignorante, e não para sacerdotes wicanos.
Muitos covens admitem somente casais em seu meio.  Isso seria muito bom, mas já presenciei a dissolução de parcerias e casamentos, e se um dos dois permanece no coven continua reprimido e refém das próprias limitações, que obviamente nunca foram trabalhadas. Isso de nada adianta.
É bastante desalentador verificar que muitos sacerdotes modernos abandonaram os antigos ritos, talvez por serem ignorantes a respeito de seus fundamentos.  Ninguém mais sabe que um ‘templo’ é formado quando um homem se une a uma mulher e se tornam um. O amor é o templo, e o orgasmo no qual nenhuma identidade existe e são perdidos todos os parâmetros mundanos é o verdadeiro canal de manifestação dos Deuses.  Há um texto muito antigo que diz: “Onde as vacas se divertem com os touros, acompanhadas por seus filhotes, ou onde belas mulheres flertam com seus amantes, esse lugar é um local apropriado para um templo”.
É exatamente isso que faz com que, no círculo, nos movamos do tempo para a ausência do tempo.  Wica não fala em nenhum momento em casamento biológico;  fala em casamento sagrado, no qual corpos e mentes são irrelevantes e a pessoa mergulha na profundidade do ser e torna-se um canal da divindade. É assim que a Deusa e o Deus de Chifres se tornam disponíveis, e na Wica verdadeira não conheço outro método, porque é no rito que sacerdote e sacerdotisa transcendem o sexo e os pólos opostos se ligam através do amor.  Aliás,  é somente através do amor que existe tal ligação e permite a descida do êxtase divino.

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