quarta-feira, 15 de junho de 2011

Tradição Ancestral

Shanti66, escreve
 «Talvez todos os dragões desta vida
Sejam princesas à espera de ver-nos,
Belos e bravos.
Talvez o horror seja apenas,
No mais fundo do seu ser, algo
Que precisa do nosso amor.»

Rainer Maria Rilke

O homem está sempre procurando dar significado a tudo o que ele percebe através dos órgãos dos sentidos, busca a racionalização de suas percepções a partir de uma memória ego-condicionada muitas vezes adornada por dogmas e crenças que não correspondem à realidade. Como exemplo cito a estória dos três hindus cegos e um elefante : Três cegos foram levados até um elefante. Um foi colocado próximo a cauda, outro perto da tromba e o último próximo ao tronco do animal. Ao primeiro foi dada a cauda para que segurasse e lhe perguntaram o que é isso? E ele prontamente respondeu : uma corda. Ao segundo cego que estava na frente do elefante, foi dado a tromba para que ele a analisasse, e lhe perguntaram o que é isso? e ele responde, é uma cobra.

Ao terceiro cego que estava na lateral do mesmo, lhe pediram que apalpasse aquilo que se encontrava na sua frente(a lateral do elefante), e lhe perguntaram o que é isso? ele disse é uma parede . Os três cegos utilizaram os registros de suas experiências anteriores(memória condicionada) para explicar aquilo que estavam tocando com as suas mãos, que no ponto de vista deles está correto, mas em realidade não. No Curso Em Milagres, nos é dito, na lição nº 7, que nós só vemos o passado, ou seja, estamos sempre presos aos conceitos pré- adquiridos que inevitavelmente nos impedem de permanecermos no aqui e agora, que é sem sombra de dúvida o grande segredo da meditação.

Agora, quero que você imagine um ritual feito na lua cheia de maio, no hemisfério norte. Homens e mulheres reúnem-se para reverenciar a grande dama do bosque e seu consorte cernnunos, o deus cornífero, ofertam a estas divindades frutas, bebidas alimentos naturais. Expressam a sua alegria através da dança, e algumas pessoas buscando representar Cernnunos colocam chifres sobre as suas cabeças, possivelmente de algum cervo que foi abatido.

Neste momento quero que você reflita um pouco comigo, Cernnunos o Deus cornudo da fertilidade era representado com cornos(chifres) na cabeça, cabelo comprido encaracolado, barba, nu à exceção de um torque no pescoço, e por vezes segurando uma espada e um escudo. Bem, e se você encontra-se com está divindade materializada a sua frente, o que você diria?
Provavelmente, associaria esta imagem ao diabo, não é mesmo?

Há muito tempo atrás, quando o cristianismo e as antigas religiões naturais se confrontaram na Europa, o clero utilizou a imagem do divino filho o Deus cornífero(Cernnunos), para representar o diabo. A igreja convencionou que os chifres eram uma das característica básicas do ser do mal.

Mas, porque os antigos utilizavam os chifres?
E porque a igreja colocou chifres no diabo?

Vamos dar dois exemplos com relação à primeira pergunta:

1ª - Este é um trecho extraído do livro O poder da bruxa : "O uso de chifres era um costume comum, nas sociedades caçadoras neolíticas, o capacete cornífero era a coroa do caçador bem sucedido, que assumia na tribo um papel proeminente e respeitado pelos seus êxitos na arte da caça. Mas não era somente nas sociedades neolíticas que os chifres eram utilizados, os antigos deuses gregos- Baco, Pã e Dionisios, eram representados com chifres, assim como Diana, a caçadora e a egípcia Ísis. Alexandre Magno e Moisés, que não eram deuses foram homenageados entre os seus seguidores com chifres, como um sinal de suas proezas e do favor divino que parecia abençoar suas façanhas. Os chifres eram uma representação física da luz da sabedoria e do conhecimento divino que irradiavam deles. O deuteronômio diz-nos que a glória de Moisés é como o primogênito de seu novilho, e seus chifres são como os chifres de unicórnios. Os chifres foram usados em elmos gregos, romanos e italianos até o século XIV como símbolo de força e coragem" .

2ª - O irmão espiritual Vento Sussurrante nos explicou este aspecto da seguinte forma : Os homens das sociedades neolíticas sempre buscaram um contato com as forças mágicas da mãe natureza, e observando os ciclos de vida dos animais intuitivamente associaram aos seus rituais, objetos que representavam o animal, inclusive as partes do seu corpo, como por exemplo as garras, asas, peles e também os chifres . Vamos usar como exemplo o Cervo, para ilustrar o que foi dito : Um cervo quando nasce enfrenta uma série de dificuldades pois está exposto a fenômenos naturais, tais como predadores, tempestades, calor, frio, pestes, falta de alimentos, etc. Viver, portanto, não é muito fácil no mundo animal onde somente os mais aptos conseguem sobreviver. Então, quando o cervo consegue atingir a maturidade, e os seus chifres alcançam o tamanho máximo pode ser considerado um vencedor que superou todos os obstáculos que a natureza lhe impôs . O homem provavelmente observou este fato muitas e muitas vezes, e buscou incorporar a capacidade de sobrevivência que ele observara do animal em sí mesmo, utilizando os chifres na sua cabeça, simbolizando assim a força e a capacidade do mesmo.

Quanto à Segunda pergunta, eu respondo de uma forma lógica , os clérigos queriam destruir a boa imagem das divindades pagãs, como a do deus grego da natureza Pã que possuía pés de bode e cornos, o romano Fauno e o o céltico Cernnunos, pois eram vistas pelo povo daquela época com admiração e respeito, e nada melhor do que associar aquelas divindades, na boa intenção da igreja, com o ser do mal, o diabo. Bem, para finalizar gostaria de definir algumas palavras que são usadas para falar do ser do mal, como por exemplo "diabo", que vem da palavra grega diabolos, e significa literalmente separar(dia-bollein).

Demônio, vem da palavra grega daimon, e significa espírito ou gênio. No passado o conceito atribuído a palavra demônio era diferente da atual interpretação cristã. Vou citar o trecho de um texto onde Sócrates o grande filósofo grego fala sobre os daimones(demônios): Os daimons enchem o intervalo que separa o céu da terra. São o laço que une o grande todo consigo mesmo. A divindade nunca entra em comunicação direta com o homem; é por intermédio dos daimones que os deuses se correspondem com ele, quer durante a vigília como no sono. Este texto foi extraído do evangelho segundo o espiritismo, onde Allan Kardec faz uma comparação entre a doutrina filosófica de Sócrates e o espiritismo. Por fim, a palavra satanás, que tem a sua origem na palavra hebraica sãta, e significa literalmente adversário.

O objetivo deste texto é mostrar à você leitor, que carregamos dentro de nós uma série de informações que nos foram impostas como verdades absolutas, e que não correspondem a realidade. Então pense e reflita sempre, nunca aceite cegamente uma verdade imposta, que não se sustente, pois como nos diz Hermes Trismegisto, "todas as verdades são meias verdades".


"Que os quatro ventos sagrados nos abençoem".

Alexandre Ledur - Caminhante do céu cristal vermelho "

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